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análise
Adorno de luxo do governo, Gil não fez pouco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Gilberto Gil teria tratado
melhor sua biografia se tivesse deixado o cargo ao fim do
primeiro mandato de Lula.
Afetuou-se a um pedido "fica, Gil", de uma ala de artistas e do presidente, e tornou-se um ministro "cansado do
ministério", como disse à
Folha em agosto de 2007.
Nos últimos dois anos, seu
lado músico reaflorou com
força: ele voltou a compor,
lançou um disco, incrementou sua agenda de shows...
Abriu em excesso seu flanco
mais vulnerável: o de ganhar
dinheiro privado enquanto
ocupava um cargo público,
destinando cada vez menos
tempo a este.
Nem a simbologia de um
artista de primeiro time ocupando o ministério bastou
para preservá-lo. Mas não se
deve menosprezar essa simbologia. Gil deu ao cargo uma
dimensão que, em duas décadas de existência, ele ainda
não tivera. E espantou a
poeira dos apáticos oito anos
de Francisco Weffort, quando as diretrizes culturais ficaram nas mãos dos gerentes
de marketing das empresas.
A maior vitória de Gil,
aliás, foi avocar para o ministério a formulação dos critérios de patrocínio a serem
adotados por empresas públicas -que, na gestão anterior, escolhiam os patrocinados por indicação política ou
idiossincrasias. Hoje, a regra
são os editais, que podem ser
questionados, mas não são
obscuros.
A segunda maior vitória
foram os Pontos de Cultura,
projeto de custo relativamente baixo (R$ 185 mil cada
ponto) que permitiu, em parceria com organizações da
sociedade, a chegada de internet, ilhas de edição e miniestúdios de gravação a lugares remotos do país.
O maior erro foi tocar com
a barriga, ao longo de seis
anos, a necessidade de reforma da Lei Rouanet, desacreditando-a por omissão e prejudicando produtores teatrais, musicais e de outras
áreas. Para quem nunca conseguiu um orçamento maior
do que 0,6% do PIB e foi usado como adorno de luxo pelo
governo, até que Gil não fez
pouco. Tivesse saído antes,
teria se saído melhor.
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