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AULA PETISTA
Em palestra a petistas, marqueteiro diz que palavra "greve" assustava
Duda ensina como "suavizou" Lula e é comparado a pastor evangélico
DOS ENVIADOS A BELO HORIZONTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Sob dois telões, em um ambiente com iluminação reduzida onde prevalecem tons avermelhados, e tendo ao fundo um
cenário que estampa uma grande estrela multicolorida, o marqueteiro Duda Mendonça declara: percorreu o Caminho de
Santiago de Compostela, na Espanha, numa espécie de penitência por ter ajudado a eleger
Paulo Maluf prefeito de São
Paulo em 1992.
Ao final da jornada, famosa
como uma peregrinação espiritual, de purificação e autoconhecimento, diz que comungou
e orou. Hoje é um verdadeiro
petista. A platéia vai ao delírio.
São cerca de 450 militantes do
PT que se espremem no anfiteatro do hotel Ouro Minas, o único cinco estrelas de Belo Horizonte, para ouvir o marqueteiro. O encontro custou pelos menos R$ 100 mil ao partido.
A "confissão" de Duda Mendonça diante dos inflamados
militantes aconteceu no segundo dia do seminário sobre marketing político do PT.
O relato das palestras do marqueteiro foi feito à Folha por
participantes que não quiserem
se identificar e afirmaram ter
orientação do partido para não
contar detalhes do encontro
com Mendonça, fechado para a
imprensa e vigiado por muitos
seguranças particulares.
Em outro momento, Duda
Mendonça, com uma espécie de
bata branca que costuma vestir
às sextas-feiras e que, segundo
um dos relatos, lembrava "um
guru esotérico dos anos 60", exibe trechos dos vídeos que fez
para a campanha vitoriosa de
Luiz Inácio Lula da Silva.
Diz que buscou uma edição
das imagens que retirasse de um
dos depoimentos do então candidato o "tom galanteador"
com que ele falava do início de
seu relacionamento com a atual
primeira-dama, Marisa Letícia.
Procedimento parecido foi
usado para "suavizar" trechos
em que Lula comentava as greves que liderou no ABC, no fim
dos anos 70.
E explica: uma pesquisa mostrava que a palavra "greve", que
transformara Lula num líder
popular e foi emblema do PT, tinha conotação negativa em ampla fatia do eleitorado.
Mendonça também dá conselhos ao público, futuros coordenadores das campanhas do PT a
prefeito no ano que vem. Uma
das receitas é velha conhecida
dos publicitários e diz que o
mais importante é vender uma
idéia, um conceito de administração para o eleitor.
A parafernália e a maneira teatral como o marqueteiro, ora
sentado nos degraus do palco,
ora caminhando freneticamente, faz sua exposição trouxe à
memória de um dos participantes ouvidos pela Folha o ambiente de uma igreja evangélica,
onde o pastor hipnotiza os fiéis.
De repente, as portas são abertas para que uma equipe de TV,
provavelmente a serviço do partido, faça algumas tomadas da
palestra. Mendonça, então, decide elevar a temperatura e convoca o presidente do PT, José
Genoino. O petista aceita o convite. Braços levantados, sorriso
no rosto, comanda a militância,
que, prontamente, responde e
entoa coros enaltecendo o partido.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, RAYMUNDO COSTA E PAULO PEIXOTO)
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