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Santos Dumont e sua discípula
Leia trecho do livro de Santos Dumont sobre Aída
d'Acosta:
Projetos desse gênero [uma plataforma para poder
pousar o seu dirigível na janela de apartamento], o
futuro os realizará. Enquanto se espera, a idéia aérea
está em marcha. Um menino de sete anos subiu comigo no Nš 9. Uma encantadora mocinha o dirigiu literalmente, sozinha, durante um percurso de cerca
de uma milha.
O menino era o pequeno Clarkson Potter, que será
seguramente um magnífico capitão de aeronave, se
quiser aproveitar desse lado a sua inteligência.
O caso passou-se a 26 de junho de 1903. Realizava-se uma festa infantil em Bagatelle. Desço com o Nš 9
no meio desse pequeno mundo, e perguntei:
-Há algum menino que queira subir comigo?
Tal foi a coragem confiante da juventude francesa e
americana que tive de escolher entre uma dúzia de
voluntários. Levei o mais próximo.
-Não tem medo?, perguntei a Clarkson Potter, no
momento em que a aeronave se elevava.
-Nem um bocadinho!, respondeu-me ele.
Como era natural, abreviei o passeio.
Quanto à outra circunstância, a da primeira mulher que subiu numa aeronave, com ou sem companheiro, merece ser conservada nos anais da navegação aérea, pois a moça, sozinha, dirigiu o Nš 9.
A heroína, uma jovem e lindíssima cubana, muito
relacionada na sociedade de Nova York, tinha vindo
por diversas vezes, com amigos, visitar a minha estação. E manifestara-me seu ardente desejo de voar.
Perguntei:
-Quereis dizer que teríeis coragem de deixar que
vos conduzisse num balão livre, sem que ninguém
segurasse o cabo-pendente? Senhorinha, sou muito
grato pela vossa confiança.
-Não!, protestou a jovem. Não quero ser conduzida! Desejo voar só, dirigir livremente, como o senhor!
O simples fato de haver consentido, com a condição de que a pretendente recebesse primeiro algumas lições para a manobra do motor e dos maquinismos, diz eloquentemente, suponho, da minha confiança no Nš 9.
Essas lições foram em número de três, após o que,
quando chegou a data de 29 de junho de 1903, que ficará memorável na história da aerostação navegável,
minha jovem discípula, elevando-se dos terrenos da
minha estação, no menor dos dirigíveis possíveis,
gritou
-Larguem tudo!
De Neully-Saint-James ela fez o cabo-pendente para Bagatelle. O cabo, arrastando pelo chão sobre uma
dezena de metros, deu-lhe altitude e equilíbrio que
não variaram.
Não pretendo dizer que não havia ninguém acompanhando o curso do cabo; o certo é que ninguém
nele tocou até o momento em que, seu percurso terminado em Bagatelle, a intrépida jovem navegadora
pôs os pés em terra.
Extraído de "Os Meus Balões", de Alberto Santos Dumont
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