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Debate sobre extinção opõe teorias sobre caça predatória e mudanças climáticas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Ah, esse é um assunto espinhoso", diz o ecólogo Paulo
Guimarães Jr. ao ser questionado sobre o que provocou a
extinção em massa da megafauna americana. Tigres-dente-de-sabre, mastodontes, cavalos, tatus, preguiças gigantes,
toxodontes (que lembram hipopótamos e rinocerontes) e
macrauquênias (que parecem
um cruzamento de girafa com
camelo) desapareceram "da
noite para o dia".
"Há aproximadamente 10
mil anos, ocorreu nas Américas
uma tragédia faunística", diz o
paleontólogo Bruno Kraimer,
da PUC-Minas. Segundo ele, a
única "unanimidade" sobre a
razão disso é que a causa teve
relação com alterações no clima. Para ele, a dúvida maior é
sobre "quando" exatamente a
mudança climática aniquilou
os bichos gigantes.
Pode ter sido quando as mudanças de temperatura e de
umidade fizeram o cerrado se
expandir, ou quando mudanças
seguintes fragmentaram o cerrado e expandiram as florestas.
A opinião de Guimarães, entretanto, é uma "unanimidade"
diferente: tribos caçadoras mataram a megafauna.
"Esses animais se extinguiram no fim da última glaciação.
Mas ocorreram muitas glaciações nesse período geológico.
Em nenhuma delas o grau de
extinção foi tão alto quanto no
fim do período. A única diferença entre a última glaciação e
as anteriores é a presença humana nas Américas."
Daniel Janzen, da Universidade Estadual da Pensilvânia,
não têm dúvida. "O primeiro
grande impacto dos humanos
no Novo Mundo foi a extinção
da megafauna, e não a caça dos
últimos 500 anos", diz. "Isso
sempre foi óbvio para ecólogos
e para qualquer um que pense
cinco minutos a respeito."
Para Richard Fariña, da Universidade da República, do
Uruguai, se os humanos tiveram algo a ver com a extinção
daqueles animais, há até mesmo "uma lição a aprender".
Mas há contra-argumentos.
"Não há vestígios que corroborem essa explicação", diz Kraimer. "Achados fósseis de sinais
de caça a animais de grande
porte são raríssimos." Para ele
que caçadores pré-históricos
preferiam os mamíferos pequenos e os médios.
Dupla ameaça
Para Galetti, o mais provável
é que a extinção tenha ocorrido
tanto pela caça quanto pelas
mudanças climáticas. "A caça
teria causado um declínio
acentuado nas populações dos
mega-herbívoros, como acontece hoje em diversas reservas
indígenas", escreve o ecólogo
em artigo. "As mudanças no clima, por sua vez, fragmentaram
e reduziram a distribuição desses animais a locais com baixa
qualidade nutricional."
E há ainda mais uma hipótese para explicar a extinção, proposta por Jorge Ferigolo, da
Fundação Zoobotânica do Rio
Grande do Sul, de uma pandemia de vírus que teria dizimado
os animais. Mas Kraimer discorda: "viroses não extinguiriam comunidades inteiras de
animais de diferentes ordens."
Será, então, que há meio de
os cientistas entrarem em acordo? "Nunca", diz Fariña.
(IZ)
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