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VLS-1
Comando da Aeronáutica afirma que modificações exigidas após acidente que matou 21 há um ano estão sendo feitas
Sem teste, Alcântara prepara novo foguete
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o país relembra a
morte de 21 técnicos no acidente
com o VLS-1 (Veículo Lançador
de Satélites), ocorrido há um ano,
membros do IAE (Instituto de
Aeronáutica e Espaço) se preparam para lançar mais um foguete
a partir de Alcântara no mês que
vem, segundo a Folha apurou.
O modelo nunca foi testado antes e, mais uma vez, além do sigilo, uma série de irregularidades
permeia o lançamento.
O veículo já foi montado e está
praticamente pronto para voar.
Apesar disso, ele não passou ainda por uma revisão preliminar
que possa verificar falhas e riscos
no projeto, procedimento que
normalmente é seguido antes que
o foguete seja montado.
A chamada PDR (revisão preliminar de projeto, na sigla em inglês) será realizada a partir desta
semana, mas, de acordo com
membros do IAE que preferem
permanecer anônimos, apenas
para cumprir protocolo. Após a
PDR, ainda seria preciso realizar
uma CDR (revisão crítica de projeto), para então o foguete ser fabricado e montado com as modificações sugeridas pelas revisões.
Antes de tudo isso ter acontecido,
no entanto, já há equipes em trânsito entre São José dos Campos
(SP) e Alcântara (MA) para iniciar os preparativos do lançamento na base da Aeronáutica. "O negócio deles é cumprir planilha",
diz um engenheiro do IAE.
Desta vez, o foguete a ser lançado não é tão grande quanto o
VLS. Trata-se de um veículo de
dois estágios (andares) chamado
VSB-30, desenvolvido em parceria com a Alemanha. Com 13 metros de comprimento (contra 19
do VLS-1), ele é capaz de fazer um
vôo suborbital com uma carga
útil de até 400 quilos, atingindo altitude máxima de cerca de 300
quilômetros e velocidades acima
de Mach 6 (seis vezes a velocidade
do som, de 1.100 km/h).
"O VSB-30 tem por objetivo ser
usado para missões científicas futuras de foguetes de sondagem,
tanto no Brasil quanto na Europa,
principalmente para experimentos de microgravidade", diz Peter
Turner, membro do DLR (agência espacial alemã) envolvido no
projeto. Ele relata que as equipes
trabalhavam com um planejamento que estipulava o início da
operação para o lançamento do
foguete em meados de junho. O
atual cronograma prevê que o
lançamento em si deve ocorrer
em algum ponto de setembro.
O clima de sigilo é o mesmo que
precedeu o acidente com o VLS-1.
Nem AEB (Agência Espacial Brasileira), nem CTA (Centro Técnico Aeroespacial), instituição-mãe
do IAE ligada à Força Aérea, fazem anúncio do lançamento iminente, embora já estejam veiculando informações sobre o próximo vôo suborbital do Projeto Microgravidade, que deve decolar de
Alcântara em dezembro.
E, mesmo para o lançamento do
fim do ano, o acesso a informações é limitado. Jornalistas que
tentaram obter autorização para
acompanhar o lançamento não
conseguiram. O veto ocorreu, segundo a Força Aérea, por razões
de segurança.
Outro lado
O Comando da Aeronáutica diz
que as modificações exigidas pelo
relatório da comissão de investigação do acidente com o VLS-1
estão sendo implementadas.
"No momento, todas estão em
fase de estudo ou em execução",
diz o Cecomsaer (Centro de Comunicação Social da Aeronáutica). Entretanto, uma das exigências primordiais do relatório foi a
criação de uma comissão externa
para o acompanhamento desses
trabalhos, com membros da sociedade civil e representantes das
famílias das vítimas. Isso ainda
não aconteceu.
Vários engenheiros que trabalham no programa acreditam que
as lições tiradas do acidente que
matou 21 no ano passado não foram absorvidas nem pela chefia
das equipes ligadas ao VLS, nem
pela das que lidam com os foguetes de sondagem, como o VSB-30
Embora ainda não tenha concluído com sucesso o desenvolvimento de seu lançador de satélites, o
Brasil é famoso por seus veículos
suborbitais, que atraem parceiros
como a Alemanha. Entretanto, segundo estudos que circulam internamente no IAE, a taxa de sucesso em missões de foguetes de
sondagem brasileiros na última
década tem sido de 50%, mesmo
com veículos já consagrados.
Três fracassos
O projeto do VLS-1 foi iniciado
em 1980, mas a primeira tentativa
de lançá-lo ao espaço só ocorreu
em 1997. A missão fracassou, 65
segundos após a decolagem, por
uma falha no primeiro estágio.
Na segunda tentativa, realizada
dois anos depois, nova falha, desta vez no segundo estágio. O vôo
durou 200 segundos. As duas falhas não tiveram vítimas.
O terceiro protótipo estava sendo preparado para o lançamento
quando causou o incêndio em Alcântara. O objetivo do governo é
lançar o quarto protótipo em
2006. Para isso, a AEB (Agência
Espacial Brasileira) diz que haverá, até o final deste ano, uma verba de R$ 100 milhões a serem investidos no projeto.
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