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DESASTRE EM ALCÂNTARA
Teste de DNA pode ser necessário para identificação de vítimas; moradores de Alcântara não perderam familiares no acidente
Parentes de técnicos perdem esperança
DAS REGIONAIS
DO ENVIADO A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA
O clima entre familiares e amigos dos funcionários do CTA
(Centro Técnico Aeroespacial),
em São José dos Campos (SP), durante a madrugada de ontem foi
de aflição e expectativa com a falta
de informações sobre as vítimas
do acidente com o VLS-1. Alguns,
mesmo com informações extra-oficiais, temiam o pior. A situação
foi parecida em Alcântara, principalmente entre os familiares dos
recrutas da Aeronáutica da base.
Os nomes das 21 vítimas da explosão da plataforma somente foram divulgados por volta das
13h30 de ontem na página da Força Aérea Brasileira na internet
(www.fab.mil.br). José Ribamar
Cruz Ribeiro, do Instituto de Criminalística do Maranhão, afirmou à agência Reuters que o estado dos corpos exigia testes de
DNA para identificá-los.
Pela manhã, no Vale do Paraíba,
a mãe do mecânico de aeronave
Daniel Faria Gonçalves, 20, já demonstrava poucas esperanças.
"Fui procurada pelo CTA e informada que estão procurando por
ele, mas que é para esperar o
pior", disse a dona-de-casa Aparecida Gonçalves, 54.
Indignada, mesmo antes da
confirmação da Aeronáutica, a
mãe de Walter Pereira Júnior, 45,
técnico do CTA há 28 anos e pai
de dois filhos, já havia reservado
um jazigo num cemitério da cidade. "O Walter não queria ter ido
para Alcântara porque não gostava de ficar muito tempo longe da
família", disse Jarina da Silva Pereira, 66.
"É um absurdo mandar alguém
para uma missão desse porte sem
garantia de nada. Ele não ganhava
por insalubridade ou periculosidade. Eu queria é a vida do meu filho de volta. Mas já que isso é difícil, que pelo menos eles paguem à
família todos os direitos que não
lhe foram pagos em vida."
Esperança
Um avião da Aeronáutica chegou de Alcântara com sobreviventes do acidente por volta das
23h45 de anteontem, mas todos
os passageiros, por orientação das
Forças Armadas, não puderam
falar à imprensa. A ordem dada
aos oficiais era de controle rígido
na entrada e saída de pessoas do
CTA, autorizando apenas que parentes de moradores tivessem
acesso ao local.
A informação sobre a chegada
do avião fez com que João Santos
Filho, 36, fosse ao local para tentar
saber da situação de seu cunhado,
Gil César Baptista Marques, 42,
que integrava a equipe na documentação da missão. Anteontem,
a família de César foi avisada que
o cinegrafista, funcionário do
CTA, estava na lista de desaparecidos, mas que não havia ainda
comprovação de sua morte. "Foi
por isso que nos animamos e tivemos a esperança de encontrar
meu cunhado entre as pessoas
que chegavam de Alcântara, mas
ele não estava no avião que chegou", disse Santos Filho.
Alcântara
Um plantão na TV, anteontem,
por volta das 14h, informou sobre
uma explosão na base de Alcântara. A professora Benedita Santos,
45, largou tudo o que fazia na única escola estadual da cidade e correu para casa em busca de informações detalhadas. No trajeto, a
pé, avistava a fumaça. Seu filho,
Fernando, 18, recruta da Aeronáutica, havia iniciado o turno na
base na manhã daquele dia.
"Foi horrível, nossa senhora. Fiquei com dor de cabeça, preocupada, e as notícias chegando, chegando. Depois fiquei um pouco
mais aliviada quando disseram
que ele [filho] não tinha acesso ao
local que foi atingido [pela explosão]. Mesmo assim fiquei muito
preocupada", declarou Benedita.
Ontem pela manhã, mesmo
tendo informações extra-oficiais
de que nenhum alcantarense estava entre as vítimas, a angústia de
Benedita continuava. "Meu filho
não telefonou, mas acho que nem
poderia. Ele deve voltar hoje. Mas
só vou me acalmar quando ele colocar os pés dentro de casa."
Sobre o futuro, a professora alcantarense já antecipa sua preocupação. O próprio governo já falou que vai continuar [com os investimentos no programa espacial]. Ai, meu Deus do céu. Isso aí
não é tranquilidade pra nenhuma
mãe", disse, com a voz trêmula.
A situação administrativa da cidade também não colabora com o
clima pós-explosão. Na semana
passada, a Justiça decretou o afastamento do prefeito Malalael Moraes (PTB) por improbidade administrativa. Em seu lugar, assumiu a vice, Heloísa Leitão (PFL).
Além disso, os cerca de 600 servidores públicos municipais, desde junho sem receber salários, estão em greve há duas semanas. As
escolas de primeiro grau estão fechadas; os hospitais, sem remédios e médicos; e a prefeitura, sem
luz e telefone -cortados por falta
de pagamento.(ELIANE MENDONÇA, KEILA RIBEIRO, ROBERTO COSSO, EDUARDO SCOLESE E FÁTIMA LESSA)
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