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SAÚDE
Estudos feitos em ratas e vacas mostram maior risco de aborto; médicos recomendam cautela às mulheres
Dieta de Atkins pode prejudicar fertilidade
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mulheres que estejam tentando
engravidar devem evitar dietas ricas em proteína, como a de Atkins, por causa do maior risco de
abortos e nascimento de bebês
prematuros. É o que sugere recente estudo experimental feito pela
Universidade do Colorado
(EUA), com ratas, que veio a confirmar outra pesquisa similar realizada com vacas.
Ao submeter as ratas prenhes a
uma dieta diária de 25% de proteínas durante quatro semanas, os
pesquisadores concluíram que o
índice de implantação dos embriões foi de 65%. Já entre as ratas
sujeitadas a uma dieta normal
(14% de proteínas), o percentual
de sucesso foi de 81%.
A razão do insucesso seria a
produção excessiva de corpos cetônicos -componentes tóxicos
produzidos a partir da degradação das moléculas de proteína-,
que interferem no desenvolvimento fetal. No trato reprodutivo
das ratas submetidas à dieta protéica, por exemplo, foi encontrada
quatro vezes mais quantidade do
agente tóxico do que entre as ratinhas em dieta normal.
Mesmo diante da inexistência
de pesquisas que indiquem o prejuízo de altas quantidades de proteína à fertilidade humana, há
médicos que desaconselham esse
tipo de dieta às mulheres que tentam uma gravidez-espontaneamente ou por meio de tratamentos da reprodução assistida.
"No período da estimulação
ovariana [por meio de hormônios], orientamos para que as pacientes diminuam a proteína e aumentem um pouco o consumo de
carboidrato", afirma o médico
Edson Borges, especialista em reprodução assistida.
As mulheres são orientadas a
reduzirem a atividade física porque a prática também produz os
corpos cetônicos.
Para Borges, é muito provável
que a toxicidade desses corpos
afetem o desenvolvimento inicial
do embrião humano. Na avaliação dele, é conveniente interromper a dieta hiperprotéica antes
mesmo da confirmação da gravidez, que geralmente ocorre por
volta da 5ª semana de gestação.
"É importante que o ambiente
uterino esteja com baixo nível de
substâncias tóxicas", afirma.
No último encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, ocorrido em
junho, em Berlim (Alemanha), os
próprios pesquisadores que fizeram o estudo com as ratas afirmaram que as mulheres que estejam
tentando ter um bebê devem ser
"prudentes" e limitar a ingestão
de proteína a 20% de sua dieta.
Na avaliação da endocrinologista Valéria Cunha Campos Guimarães, presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia), é possível que
dietas como a de Atkins produzam excesso de corpos cetônicos
também em mulheres e, isso
ocorrendo, os riscos de aborto seriam parecidos aos que enfrentam as mulheres diabéticas, que
também produzem essas substâncias tóxicas em excesso quando a doença não está controlada.
Emagrecer
A redução do peso em pelo menos 15% é uma das primeiras medidas para as candidatas à mãe
que estejam obesas e encontrando dificuldades de gravidez, especialmente se elas forem portadoras da síndrome dos ovários policísticos, de acordo com a ginecologista Cláudia Gazzo.
A obesidade altera os níveis de
insulina liberados pelo pâncreas
na mulher, o que desencadeia
uma superprodução de hormônios masculinos pelos ovários e,
por sua vez, a interrupção da liberação de óvulos.
Segundo Gazzo, a perda de peso
auxilia na melhora da irregularidade menstrual e na regulação da
glicose no sangue. "Isso independe da dieta, mas o ideal é que seja
uma equilibrada", diz.
O ginecologista Arnaldo Schizzi
Cambiaghi também percebe melhora da resposta ovariana e dos
índices de sucesso das FIVs (fertilizações in vitro) das mulheres
que conseguem emagrecer.
"O problema é a ansiedade. A
maioria das mulheres que quer
engravidar não aceita a sugestão
de primeiro emagrecer."
Ana Luiza Carl, 28, foi uma exceção. Em 2000, após tentar por
dois anos uma gravidez, ela decidiu fazer uma dieta -com acompanhamento de uma endocrinologista- e perdeu 17 kg. Passou
de 78 para 61 kg. Logo em seguida,
engravidou espontaneamente.
Cambiaghi diz que já começa a
perceber melhora na fertilidade
de mulheres que fizeram cirurgias
de redução de estômago.
Mas cuidado: a perda excessiva
de peso também prejudica a fertilidade tanto de homens como em
mulheres porque a transmissão
de mensagens hormonais que o
cérebro envia aos ovários e aos
testículos torna-se reduzida.
A dica de Cambiaghi é dieta balanceada. Para as mulheres, uma
maior ingestão de trigo, soja e verduras de cor verde escuro, que
possuem ácido fólico e evitam
más-formações. Para os homens,
os frutos do mar, que têm zinco,
ajudam na espermatogênese.
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