|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Risco leva a busca por abrigos
DA REPORTAGEM LOCAL
"Minha impressão é que entra
mulher, sai mulher e muda só o
nome, as histórias são muito parecidas", conta Maria Elisa Braga,
assistente social da casa Eliane de
Grammont há dez anos. A reportagem da Folha conversou com
algumas dessas mulheres, que tiveram os nomes trocados e não
puderam ser fotografadas, por
questão de segurança.
Duas sofreram ameaças de
morte e hoje estão em um abrigo
mantido pela prefeitura, cujo endereço não é divulgado.
A empregada doméstica Joana,
26, acredita que o seu companheiro a agredia por desconfiar de sua
fidelidade. "Acho que ele gosta de
mim e não consegue admitir que
tive outro relacionamento na época em que nos conhecemos,
quando engravidei", diz.
A primeira violência foi uma
ameaça, numa época em que o casal estava separado. Depois que
Joana teve uma filha, o companheiro invadiu sua casa com uma
arma na mão. O motivo seria a
dúvida sobre a paternidade da
menina.
Um mês depois, foram morar
juntos. As constantes brigas por
causa da criança acabaram em
agressão física seis vezes.
"Queria ficar com ele a qualquer
custo, que ele mudasse, mas ele
não queria." Ela engravidou novamente e, quando o bebê completou dois meses, o companheiro teve uma nova crise de ciúme.
"Ele ameaçou jogar a criança no
chão. Fui à delegacia comum, mas
eles me trataram muito mal."
Ela decidiu, então, fugir. Teve o
apoio da sogra, que era sua vizinha. "Saí de casa, dormi na casa
de uma colega e, no dia seguinte,
fui à Delegacia da Mulher", conta.
Dias depois, ela retornou, mas diz
ter se arrependido. No dia da audiência na delegacia, ele fez novas
ameaças, e ela foi encaminhada
para um abrigo.
A primeira vez que Carla, 43,
apanhou do companheiro, havia
dois anos que eles moravam juntos. "Não sabia que ele era violento", conta.
Ela tem o segundo grau completo e trabalhava em laboratórios de
análises clínicas, mas está desempregada. "Eu me considero inteligente, sei fazer um monte de coisas." É mãe de um menino de um
relacionamento anterior e de uma
menina com o agressor.
Quando ele espancou o filho de
Carla, ela decidiu expulsá-lo de
casa. O agressor fez novas ameaças. Carla foi até a delegacia comum, mas "eles não tomaram
providência".
O companheiro acabou voltando, e Carla tinha que sustentar a
casa, trabalhando 13 horas por
dia. "Quando acabava o dinheiro,
tinha que sair para catar latinha e
comprar cigarros para ele."
Carla afirma que chegava a perder os sentidos de tanto apanhar.
"Pensei em matá-lo, mas preferi
fugir. Saí de casa com os meus filhos, só com a roupa do corpo."
Maria, 35, não sofreu agressões
físicas, mas mudou de atitude em
relação ao marido por falta de liberdade para trabalhar fora. Hoje,
ela recebe um salário dele para ficar em casa.
"Quando cheguei à casa [Eliane
de Grammont], achava que tinha
de vir com o olho roxo. Não tinha
marcas externas, mas sofria por
dentro", conta.
Ela se casou com 15 anos e teve
quatro filhos. "A gente brigava
muito, principalmente por ciúmes. Descobri que me seguia, mas
era ele quem tinha amantes."
Texto Anterior: Especialistas criticam legislação Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Brasil de Deus Índice
|