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Tese aborda católicas infectadas
DA REPORTAGEM LOCAL
Todas elas se casaram na igreja
e ouviram do padre a pregação de
que deveriam ser devotadas a seus
maridos e que eles cuidariam delas e seriam igualmente fiéis.
Um dia, descobriram que estavam com Aids e que foram infectadas dentro de casa, por seus
próprios maridos. Muitas delas,
doentes e com o filho ou o marido
doente, estão sendo cuidadas por
instituições ligadas à igreja.
A mesma fé que ajuda as soropositivas a suportar essa condição
as tornou mais vulneráreis à Aids,
fazendo-as acreditar na fidelidade
conjugal e seguir o conselho de
não usar camisinha.
É sobre esse tema dolorido que
trata a dissertação de mestrado
"Mulheres, Aids e Religião", da
teóloga Yury Puello Orozco, que
está sendo lançada pelos cadernos
da entidade "Católicas Pelo Direito de Decidir".
"É na família, tradicionalmente
definida como o lugar legítimo
para a vivência do sexo, da procriação, das relações afetivas, da
segurança, que as mulheres têm
se encontrado com a Aids", diz a
pesquisadora, hoje doutoranda
da PUC de São Paulo. É também
nessa família, abençoada pela
igreja, que muitos mulheres se defrontam com a violência.
No seu trabalho, a teóloga ouviu
dez mulheres católicas que pegaram Aids com seus próprios maridos. Para selecionar esse grupo,
ela ouviu muitas outras, de diferentes partes do país.
As Católicas pelo Direito de Decidir são uma ONG internacional
cuja luta mais conhecida é pelo
direito ao aborto. Agora, estão
lançando uma campanha pelo direito da mulher de usar e exigir o
uso de camisinha.
Yury Orozco diz que seu trabalho não é uma crítica a valores como a religião, o casamento, a fidelidade, o amor. "Trata-se de um
questionamento de como esses
valores são vividos. As mulheres
idealizam o ritual do casamento e
pensam que o homem faz o mesmo. Quando acontece a violência
dentro de casa, ou quando são infectadas, tudo desmorona. O desafio é tentar construir uma relação mais positiva com a religião.
No casamento, as mulheres se
fundem ao outro, perdem sua
própria identidade."
(AB)
O livro será lançado amanhã, às 16h, na
Câmara Municipal de São Paulo. Informações pelo tel. 0/xx/11/3107-9038.
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