São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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Tese aborda católicas infectadas

DA REPORTAGEM LOCAL

Todas elas se casaram na igreja e ouviram do padre a pregação de que deveriam ser devotadas a seus maridos e que eles cuidariam delas e seriam igualmente fiéis.
Um dia, descobriram que estavam com Aids e que foram infectadas dentro de casa, por seus próprios maridos. Muitas delas, doentes e com o filho ou o marido doente, estão sendo cuidadas por instituições ligadas à igreja.
A mesma fé que ajuda as soropositivas a suportar essa condição as tornou mais vulneráreis à Aids, fazendo-as acreditar na fidelidade conjugal e seguir o conselho de não usar camisinha.
É sobre esse tema dolorido que trata a dissertação de mestrado "Mulheres, Aids e Religião", da teóloga Yury Puello Orozco, que está sendo lançada pelos cadernos da entidade "Católicas Pelo Direito de Decidir".
"É na família, tradicionalmente definida como o lugar legítimo para a vivência do sexo, da procriação, das relações afetivas, da segurança, que as mulheres têm se encontrado com a Aids", diz a pesquisadora, hoje doutoranda da PUC de São Paulo. É também nessa família, abençoada pela igreja, que muitos mulheres se defrontam com a violência.
No seu trabalho, a teóloga ouviu dez mulheres católicas que pegaram Aids com seus próprios maridos. Para selecionar esse grupo, ela ouviu muitas outras, de diferentes partes do país.
As Católicas pelo Direito de Decidir são uma ONG internacional cuja luta mais conhecida é pelo direito ao aborto. Agora, estão lançando uma campanha pelo direito da mulher de usar e exigir o uso de camisinha.
Yury Orozco diz que seu trabalho não é uma crítica a valores como a religião, o casamento, a fidelidade, o amor. "Trata-se de um questionamento de como esses valores são vividos. As mulheres idealizam o ritual do casamento e pensam que o homem faz o mesmo. Quando acontece a violência dentro de casa, ou quando são infectadas, tudo desmorona. O desafio é tentar construir uma relação mais positiva com a religião. No casamento, as mulheres se fundem ao outro, perdem sua própria identidade." (AB)


O livro será lançado amanhã, às 16h, na Câmara Municipal de São Paulo. Informações pelo tel. 0/xx/11/3107-9038.


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