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INDÚSTRIA DA BELEZA
Uso da toxina para fins estéticos já fez do Brasil o segundo no ranking mundial de consumo do produto
Botox movimenta R$ 100 mi por ano no país
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado do botox já movimenta mais de R$ 100 milhões por
ano no país, o que coloca o Brasil
no segundo lugar do ranking internacional de utilização desse
produto.
Levantamento inédito feito pela
Folha indica que, de novembro
do ano passado até agora, foram
comercializadas pelo menos 146
mil doses do medicamento para
eliminar rugas da testa, "pés-de-galinha" em torno dos olhos ou
melhorar a aparência do pescoço.
Como consultas feitas em 12 clínicas de São Paulo, Campinas,
Jundiaí e Rio de Janeiro indicaram que cada aplicação de botox
custa em média R$ 700 (varia de
R$ 400 a R$ 1.000), chega-se então
a cerca de R$ 102 milhões.
Esse valor corresponde a três
vezes o que o país gastou na última campanha contra a poliomielite, na qual foram imunizadas 17
milhões de crianças, ou a todo o
dinheiro que o governo federal repassa aos Estados para financiar
ações de combate à Aids.
Marca
Botox é a marca da toxina botulínica tipo A produzida pela multinacional Allergan. De tão popular que se tornou, dá nome ao
produto e já redundou até em adjetivo, "botocada", utilizado para
designar mulheres que fazem uso
cosmético de suas propriedades
bioquímicas.
Inicialmente, o produto tinha
função neuromuscular, utilizado
sobretudo para coibir espasmos
na pálpebra e corrigir estrabismo.
A toxina -que é produzida pela bactéria clostridium botulinum, causa da doença botulismo- age no músculo de maneira
a diminuir ou eliminar os impulsos que o acionam. No caso da
aplicação cosmética, o músculo
facial atingido deixa de formar a
ruga e os sulcos na testa, em torno
e entre os olhos, no pescoço e
mais raramente nos lábios.
Seu uso no Brasil já tem mais de
dez anos, mas se popularizou a
partir de setembro de 2000, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária regulamentou sua
comercialização. A explosão do
consumo ocorreu neste ano.
O diretor de marketing da Allergan para a América Latina, Carlos
Alberto José, afirma que por causa da "política da empresa" não
pode revelar os números das importações do Botox pelo Brasil.
Diz apenas que aqui está o segundo mercado mundial, após os
EUA, que o volume de vendas em
2002 será 60% maior do que no
ano passado e que 85% de todo o
medicamento importado se destina à aplicação estética.
Diante da ausência de informações da empresa, a Folha se valeu
dos registros da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, órgão do
governo federal que, entre outras
funções, controla e registra todos
os medicamentos produzidos fora do país e que cruzam legalmente as fronteiras.
Assim, foi possível saber que de
novembro de 2001 até a semana
passada chegaram ao Brasil
85.926 frascos de toxina botulínica da marca Botox.
Como, segundo o fabricante,
15% desse volume se destina ao
uso terapêutico, fica-se então com
cerca de 73 mil doses do remédio
para emprego cosmético. Cada
uma dessas doses, informaram
diversos especialistas consultados
pela Folha, é suficiente para duas
sessões de correções de rugas e
das "marcas de expressão".
Ou seja, são 146 mil aplicações.
Para atingir (ou ultrapassar) os
R$ 102 milhões citados, portanto,
basta multiplicar o volume acima
pela média de R$ 700 que custa
cada aplicação.
Liderança
Mesmo que se considere que a
média poderá jogar esse número
um pouco para baixo, deve-se levar em consideração a outra marca de toxina botulínica tipo A disponível no mercado brasileiro, a
Dysport.
Ela tem exatamente os mesmos
efeitos práticos do Botox, mas este
último se tornou sinônimo do
produto e conquistou a liderança
absoluta do mercado.
Segundo a Vigilância Sanitária,
os dados de importação de
Dysport são relativos ao período
de maio a novembro deste ano e
somam 17.200 frascos. No caso
dessa marca, cada recipiente propicia três aplicações. Assim, mantidos os mesmos cálculos do caso
anterior, deve-se somar ao mercado nacional do botox mais cerca de R$ 3 milhões.
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