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Bairro define o preço do serviço
DA SUCURSAL DO RIO
A tabela da prostituição varia
do mesmo modo que o preço do
coco nas praias do Rio: quanto
mais nobre a vizinhança, mais caros os serviços.
Em Macaé (RJ), a advogada
Adriana Guilherme, gerente do
Programa de Enfrentamento à
Violência Sexual Infanto-Juvenil,
do governo estadual, verificou
menores se prostituindo por R$ 3,
R$ 5, um bujão de gás.
Na Barra da Tijuca, há quase um
cartel entre as garotas que trabalham, como dizem, ""na pista" da
avenida da praia: R$ 50 o programa de uma hora, R$ 20 o sexo oral
feito dentro dos carros em ruas
escuras. Quando a jovem é mais
bonita, aumenta o preço.
Maria Luísa cobra R$ 80. Diz ter
começado a se prostituir um ano
atrás, quando ""era menor". Parece ainda ser. Antes, era contatada
pelos clientes por telefone. Foi para a rua ""por ser mais fácil".
Raquel, 22, é prostituta desde os
16. Antes de mudar de vida, ganhava um salário mínimo. Agora
fatura pelo menos R$ 150 por noite. Às vezes chega a R$ 250.
Na Barra, ela e as amigas não
dão mais a mão a clientes que estão dentro de carros. Temem ser
vítimas da ""brincadeira" de rapazes: eles agarram a mão das garotas, prendem-nas com algemas e
as arrastam.
A ""oferta" caiu na semana passada por causa da migração para
Copacabana, em busca de ""gringos". Em Copacabana, o preço
mais pedido é R$ 150 por uma hora. Uma garota quis US$ 150.
O que mais se ouve das adolescentes é: ""Tenho 18 anos". Algumas compram carteira de identidade falsa. Outras, não. Ficam
sem entrar em certas boates e hotéis por serem menores.
As que saíram de outros Estados têm onde se hospedar. Agenciadores providenciam apartamentos. Uma menor do bairro
paulistano do Butantã que não
quis dizer a idade nem dar entrevista chegou na quinta.
Não se sabe quantas crianças e
adolescentes são vítimas de exploração sexual no Rio. ""É impossível mensurar", diz Adriana Guilherme. Além da pobreza, ela
aponta a influência do consumismo como incentivo determinante
à prostituição precoce.
A gerente do programa do Estado dedica-se a reerguer os seis
Crias (centros onde os menores
são acolhidos por até 72 horas antes de serem entregues aos pais ou
encaminhados para outras instituições) surgidos em 2000 e 2001.
O governo passado não renovou
o convênio com a empresa prestadora de serviços. Dois Crias fecharam. Outros dois funcionam
precariamente.
(MM)
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