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URBANISMO
Recursos públicos e privados podem acabar com degradação do local
Força da grana volta para o centro de SP
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O centro de São Paulo vai ganhar um oásis azul a mais de quarenta metros do chão. Uma piscina suspensa por vigas de aço será
construída sobre o 12º andar do
prédio onde funcionava a Mesbla,
na esquina da ruas 24 de Maio e
Dom José Gaspar. Com vista para
o Teatro Municipal, a piscina será
o ponto culminante do projeto
que Paulo Mendes da Rocha fez
para o prédio onde funcionará
um novo Sesc em 2005.
Um Sesc criado por Mendes da
Rocha, um dos principais arquitetos do país, não é a única boa nova
para o centro paulistano vinda da
iniciativa privada. Outros quatro
prédios de porte estão sendo restaurados ou construídos na região. Os investimentos nos cinco
projetos atingem R$ 115 milhões.
Os recursos públicos são
mais vultosos. Neste mês, a
prefeitura assinará um acordo com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), pelo qual receberá
um empréstimo de US$ 100
milhões para o centro, mas
terá que investir US$ 68 milhões -a soma chega a R$
504 milhões.
O círculo de boas notícias
para uma região que só conhecia degradação e esvaziamento se fecha com o
anúncio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), na
quinta-feira, da compra de
oito prédios para a instalação de secretarias estaduais.
Marta Suplicy (PT) já decidira transferir a prefeitura
para o viaduto do Chá.
Os investimentos privados
no centro são um sinal de
que a região não é mais uma
promessa, segundo Marcos
Barreto, 34, diretor da
Emurb (Empresa Municipal
de Urbanização). "É a prova
de que a reabilitação está
dando certo."
A aposta mais elevada na região
central é a do ex-governador
Orestes Quércia. Ele restaurou o
prédio que já foi do hotel Jaraguá
e dos jornais "Diário Popular" e
"O Estado de S. Paulo" e reabrirá
em novembro um hotel com o
mesmo nome. Ele investiu cerca
de R$ 40 milhões num hotel quatro estrelas, o Holliday Inn Select,
com 417 apartamentos, teatro,
restaurante e centro de convenções para 3.000 pessoas.
"Todos os centros de cidade do
mundo estão sendo recuperados
e aqui acontecerá a mesma coisa.
Em quatro, cinco anos essa região
vai estar completamente mudada", aposta Quércia, 64.
O prédio, cuja fachada é tombada pelo Patrimônio Histórico, foi
projetado por dois arquitetos de
renome: o francês Jacques Pilon
(que projetou a biblioteca Mário
de Andrade) e o alemão Franz
Heep (que trabalhou com Le Corbusier em Paris).
Como o prédio abrigou dois jornais, Quércia vai prestar tributo a
empresários da mídia dando seus
nomes a 32 salas de convenções.
Serão homenageados, entre outros, Roberto Marinho, da Globo,
Julio Mesquita, de "O Estado de S.
Paulo", e Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha.
A maior ousadia do arquiteto
que cuidou do restauro, Miguel
Juliano, foi abrir uma rua dentro
do hotel para facilitar o fluxo de
hóspedes. "Quem não está atrás
de status irá para o centro", diz Juliano, 74. "O preço do aluguel é até
vinte vezes mais barato do que
nos Jardins ou na região da marginal Pinheiros."
A abertura para a cidade é uma
marca comum aos novos projetos. O Sesc 24 de Maio que Paulo
Mendes da Rocha criou, por
exemplo, é tão integrado à rua
que até os cartazes com ofertas de
emprego que são colados nas antigas vitrines da Mesbla serão preservados, só que por meio de painéis eletrônicos. A entrada em vidro não cria um limite claro entre
a rua e o espaço interno.
"A idéia do projeto é
fazer o máximo possível de elogio à população que trabalha no comércio. É uma visão de
festa na cidade, de encontros em clima de
alegria", diz o arquiteto. "Com o metrô, virou programa a periferia vir para o centro. É a
abertura, como se diz
em ópera, para novos
tempos."
Para o Sesc, o prédio
tem um caráter reparador, também. A entidade foi fundada no centro, na rua Florêncio de
Abreu, em 1946 e abriu
outra unidade na rua
do Carmo em 1960.
Mas acabou dando as
costas para a região: dos 13 Sescs
existentes na cidade, justamente
os menores ficam na área.
"O Sesc ficou defasado no centro", diz Danilo Santos de Miranda, 60, diretor regional da entidade. "A cidade não pode permitir
que essa região seja deteriorada
como se fosse terra de ninguém. O
Sesc sempre ajudou a combater
isso, mas suas unidades no centro
ficaram antigas."
Por isso, serão construídas não
só uma, mas duas unidade na região central: além do Sesc 24 de
Maio, haverá outro na alameda
Dino Bueno, em Campos Elíseos,
perto da Sala São Paulo.
O mais radical dos projetos de
abertura para o espaço público é o
novo Centro Universitário Maria
Antonia. Entre dois dos prédios
da rua onde a USP funcionou entre 1949 e 1968, será criada uma
praça pública, que servirá de porta de entrada ao centro cultural.
"A idéia é oferecer alguma coisa
para a cidade, uma experiência
urbana diferente dos muros e das
cerquinhas, e mostrar a cidade
como uma experiência positiva",
diz Fábio Valentim, 33, um dos
autores do projeto.
Dos prédios antigos, só sobrará
a fachada após o final da obra,
prevista para acabar em agosto do
próximo ano. O centro ganhará
novas salas de exposições, teatro,
sala de concerto, oficinas para
workshops e reserva técnica para
obras de arte.
A recriação do espaço só foi
possível por causa de um novo tipo de engenharia financeira. Dos
R$ 4 milhões previstos para a
obra, a USP só deu até agora R$
100 mil -o restante deverá vir da
iniciativa privada.
Um acordo entre o centro e o
Instituto de Arte Contemporânea, que detém o acervo do escultor Sergio Camargo (1930-1990),
garantiu à obra R$ 1 milhão. Em
troca, o IAC usará um dos prédios
por cinco anos. A Gafisa já deu R$
600 mil e promete mais R$ 400
mil. A W/Brasil entrou com serviços -criou a programação visual. Fabricantes de cimento, aço
e de elevadores estão negociando
a sua participação na obra.
Lorenzo Mammì, 46, diretor
cultural do centro, diz que sem a
participação da iniciativa privada,
seria "impossível" recuperar o
prédio. A USP dá só R$ 250 mil
por ano à Maria Antonia.
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