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Classe média escolhe Moema e Jardins
DA REPORTAGEM LOCAL
Há um perfil bastante comum
entre moradores solitários que residem em bairros como Moema,
Pinheiros e Jardim Paulista, de
classe média e classe média alta.
Eles estão na faixa dos 30 anos,
têm vida profissional estável e um
bom padrão de vida.
A arquiteta Beatriz Santocchi,
39, vive sozinha em Moema há
dois anos e meio, desde que deixou a casa dos pais. "Foi uma opção", conta. Ela pára pouco em
casa: trabalha dez horas por dia e
no tempo livre faz ginástica, aulas
de língua estrangeira e vai com os
amigos ao teatro e ao cinema.
Beatriz afirma que não abre
mão da liberdade. "Não dividiria
o apartamento com ninguém. Já
pensei em ter um bicho, mas ficaria presa por causa dele, teria problemas para viajar, por exemplo."
O engenheiro Marcos Maluf, 37,
que mora sozinho há três anos,
considera que a oferta de serviços
para quem vive sozinho pode se
tornar um fator para que haja menos relações entre os solitários.
"Com tanta facilidade, as pessoas
não precisam de mais ninguém."
Outro fator apontado por ele é o
espaço dos apartamentos de um e
dois dormitórios. "O lugar onde
vivo tem 50 mē, é bem adaptado
para uma pessoa só. Se fosse morar com mais alguém, procuraria
um espaço maior", diz.
No prédio do engenheiro, na
alameda Franca, no Jardim Paulista, há uma ampla área de lazer,
com piscina de 25 metros coberta
e sala de ginástica. Segundo ele, o
espaço acaba contribuindo para
que ele conheça os vizinhos.
"As pessoas se encontram na
área comum do prédio, já conheci
outros moradores com perfil parecido com o meu. Mas isso aconteceu da mesma forma que aconteceria em um clube", explica.
Maluf conta que não conhece os
vizinhos do seu andar, mas fez
amizade com duas pessoas do
prédio na área de lazer. "Minha
impressão é que quem vive sozinho estabelece uma espécie de
proteção", diz Maluf.
O publicitário Danilo Castro, 31,
dividiu casa com amigos durante
13 anos. Desde o ano passado mora sozinho, em Pinheiros. "Queria
ter meu canto, é um processo natural de crescimento pessoal", diz.
O publicitário conta que mantém boas relações com os vizinhos. Mas ele admite que isso é
raro. "Eu me surpreendi. Quando
me mudei, as pessoas quiseram
me conhecer, me desejavam boa
sorte e boas-vindas."
De acordo com ele, a maioria
dos moradores é formada também por solitários. "Em uma
emergência, poderia recorrer a
eles", conta. Ele próprio já ajudou
uma vizinha. "Ela foi viajar para
os EUA e eu cuidei das plantas enquanto ela esteve fora."
Ele afirma não sentir solidão.
"Se você tem uma ocupação e um
grupo de amigos próximos, dificilmente vai se sentir só."
Solidão
A estudante de medicina Ana
Paula Cardoso, 21, veio de São José do Rio Preto (450 km de SP) há
quatro anos para fazer faculdade
em São Paulo. Até o ano passado,
ela dividia o apartamento de quatro quartos, no Jardim Paulista,
com a irmã. Neste ano, passou a
morar sozinha. "O apartamento é
grande para mim, acabo ocupando apenas meu quarto e a cozinha", conta.
Apesar de a empregada dormir
no apartamento e da boa relação
que mantém com os vizinhos, ela
sente solidão. "Sinto falta da minha família", diz.
Ela costuma viajar para sua cidade natal uma vez por mês. Os
pais também vêm visitá-la. No
próximo ano, a estudante deve
ganhar a companhia do irmão e
de um animal de estimação.
(TEREZA NOVAES)
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