|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Provadores são treinados por 4 meses
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
As duas salas, juntas, não têm
mais do que 40 mē. Na maior, a
dos especialistas, ele se reúnem
em volta de uma mesa retangular,
com água e maçã para limpar o
paladar. Na menor, a dos leigos,
nichos de madeira separam os
testadores para que um não veja a
avaliação do outro. É ali, em Jacarezinho (zona norte do Rio de Janeiro), que a Souza Cruz abriga os
provadores de cigarro.
A empresa proíbe fotos do local.
Alega que é para proteger os funcionários. A Philip Morris não
conseguiu informar na sexta-feira
se tinha ou não provadores.
A reportagem da Folha acompanhou uma sessão com os especialistas da Souza Cruz. São, em
geral, funcionários com curso superior que fazem avaliações mais
profundas do cigarro.
As avaliações são feitas por 30
funcionários do departamento de
pesquisas e desenvolvimento da
Souza Cruz, unidade no subúrbio
do Rio que custa US$ 10 milhões
por ano, segundo seu gerente,
Leopoldo Caruso.
Os provadores são voluntários,
segundo ele, mas nem todos são
aceitos -é preciso ter sensibilidade para avaliar o fumo.
Todos passam por quatro meses de treinamento. Estudam a diferença entre os fumos usados
(Virgínia, Oriental e Burley),
aprendem a diferenciar os agentes de sabor colocados no tabaco
(extrato de figo, de uva passa, mel
ou cacau) e dissecam a engenharia do cigarro (ventilação, compactação do fumo, filtro e papel).
Só depois desse treinamento é
que podem participar de dois painéis diários, que duram de 20 a 30
minutos, afirma Caruso. Eles ganham, em média, R$ 300 por mês
(ou R$ 9,20 por sessão). Fumam,
no máximo, o equivalente a quatro, cinco cigarros, segundo a empresa. Grávidas não podem integrar o chamado painel de fumo.
São analisados cigarros que já
estão no mercado, produtos em
desenvolvimento e fumos da concorrência. A prova é feita às cegas.
A marca do cigarro é coberta com
uma fita adesiva vermelha ou preta para que o marketing não influencia na apreciação.
São verificados cinco quesitos:
aroma, gosto, potência (se é forte
ou fraco), aspectos mecânicos (se
acende fácil, se queima bem, se é
fácil de tragar) e táteis.
Máquinas de fumar não conseguiram fazer esse tipo de avaliação, segundo Caruso. A Souza
Cruz possui essas máquinas, mas
sua função é outra: medir o nível
de nicotina, alcatrão e monóxido
de carbono.
O engenheiro agrônomo Alexandre Melo, 44, provador de cigarros há sete anos, acha que a
função não é perigosa: "Sou fumante, conheço os riscos do cigarro e os testes não aumentam
em nada esses riscos".
Para Melo, a função de testador
deveria ser reconhecida oficialmente. É o grande temor da Souza
Cruz. Se for oficializada como atividade de risco, os testadores teriam de se aposentar mais cedo e
receber um adicional.
O gerente do departamento de
pesquisas da Souza Cruz não vê
nenhum dilema ético em testar
em humanos um produto de risco, que provoca mais de 50 doenças. "Não vejo nenhuma questão
ética no teste. É um produto legal
e todos os envolvidos conhecem o
risco", afirma Caruso.
Texto Anterior: Alegação é exagerada, diz Souza Cruz Próximo Texto: Inca defende a extinção da função no país Índice
|