São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Segundo dirigente de unidade onde estão moradores de rua, ameaçado é sobrevivente de ataque

Policial suspeito de ameaça não se identificou em hospital

DA REPORTAGEM LOCAL

O superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal, Giovanni Di Sarno, diz que o policial suspeito de ter ameaçado com uma arma um morador de rua que está internado no local não quis se identificar na noite do último dia 30, quando foi à unidade para escoltar a vítima ao lado de uma investigadora.
Em entrevista na manhã de ontem, Di Sarno refutou a informação apresentada pela polícia de que o ameaçado seria um paciente que nada tem a ver com os moradores agredidos no centro de São Paulo. "Estou reafirmando que se trata de um dos agredidos. Só peço que nos deixem trabalhar", afirmou à Folha.
Segundo Di Sarno, os investigadores que estavam na escolta descumpriram acordo feito entre a polícia e o hospital de que qualquer conversa teria de ser acompanhada por funcionários e integrantes do Ministério Público.
Ele afirmou que abrirá uma investigação interna para saber como funcionários permitiram a entrada do investigador sem identificação e a tentativa de conversa com o paciente sem acompanhamento.
Questionado sobre o viés político do caso -Estado e prefeitura trocam acusações e a polícia investiga a guarda civil do município-, Di Sarno disse que em nenhum momento procurou a imprensa para relatar o ocorrido. Disse que ontem ficou à disposição para esclarecimentos em razão dos pedidos de entrevista recebidos na última sexta-feira.
Anteontem o investigador, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que apura os ataques, foi afastado de suas funções operacionais em razão da suspeita de ameaça. A corregedoria da polícia está investigando o caso.
O superintendente apresentou um relato mais detalhado da suposta ameaça. A vítima seria o morador de rua Regildo -só o primeiro nome foi identificado -,que estava no leito sete da UTI do sexto andar no dia 30, já sem a ajuda de ventilação mecânica.
Segundo Di Sarno, a enfermagem já havia relatado que ele estava "agitado e confuso", também por causa dos remédios que estava tomando. Após o caso da suposta ameaça, em razão da melhora, Regildo foi transferido para a enfermaria e apresenta prognóstico regular, segundo boletim divulgado ontem pelo hospital.
No dia da ameaça, além de Regildo, havia outros três pacientes que nada têm a ver com os casos de agressão na ala da UTI onde estava o morador de rua, relata Di Sarno. Além disso, uma enfermeira faziam plantão por volta das 22h, e ainda quatro auxiliares e dois médicos.
Di Sarno afirma que em determinado momento os investigadores pediram à enfermeira chefe para entrar no quarto -aguardavam na porta antes. "De repente houve uma alta do tom de voz", afirma. Alguns dos funcionários, afirma, teriam visto o investigador apontando a arma para a cabeça de Regildo.
O superintendente afirmou não saber quantos funcionários que estavam no local viram a cena e o que o investigador teria dito ao, supostamente, apontar a arma.
Após o incidente, os policiais deixaram o quarto e permaneceram, em "situação constrangedora", na porta do local até o dia seguinte, quando houve troca da escolta. No dia 2 de setembro, quinta-feira passada, Di Sarno disse ter recebido a visita de investigador-chefe do DHPP que assinou documento do hospital que relata o caso.
Segundo Di Sarno, o delegado do DHPP Armando de Oliveira Costa Filho telefonou pedindo desculpas na data. "Disse que incidentes como esses não ocorreriam mais."
O superintendente destacou ainda que Ivanildo Ferreira, suposto morador de rua que a polícia diz que o investigador procurava ao entrar no quarto, teve alta no dia 14, o que foi divulgado pelo hospital.(FABIANE LEITE)

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