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TRANSPORTE
Polícia quer que Capuano explique "quebra" de viações; ele vive em fazenda a 670 km de SP; SPTrans pede bloqueio de bens
Empresário procurado se refugia em Minas
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A PATROCÍNIO (MG)
Uma fazenda de difícil acesso
localizada a 670 km de São Paulo,
rodeada de plantação de soja e
criação de gado, com duas casas
recém-construídas, lancha na garagem, à beira de uma represa.
É lá que se refugia Leonardo
Lassi Capuano, empresário de
ônibus que a polícia tenta localizar há quase dois meses para explicar a "quebra" de suas quatro
viações, em São Paulo e Campinas, no segundo semestre de
2002, e a "venda" de ao menos
duas delas para "laranjas" -incluindo um eletricista que já havia
morrido antes da transação.
No dia 28 passado, a SPTrans
(empresa municipal que cuida do
transporte coletivo) entrou na
Justiça para tentar bloquear os
bens dele e de ex-sócios da viação
Cidade Tiradentes, na qual a prefeitura injetou R$ 17 milhões nos
últimos seis meses, principalmente para regularizar dívidas trabalhistas. O dinheiro foi retirado da
conta do sistema, formada pela
arrecadação de vales e passes.
Ele também é considerado uma
peça-chave para esclarecer as acusações feitas pelo estelionatário
Gelson Camargo dos Santos contra Luis Favre, marido da prefeita
Marta Suplicy (PT). Santos declarou à polícia que Capuano teria
dado uma "caixinha" de US$ 300
mil a Favre para manter um esquema de favorecimento às empresas de ônibus paulistanas.
Capuano, que foi até dois anos
atrás braço direito da família
Constantino, dona da companhia
aérea Gol e da maior frota de ônibus do país, é investigado no inquérito policial 28/03 sob a acusação de estelionato, falsificação de
documentos, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária.
Ele vive hoje na rota Uberlândia-Patrocínio, a oeste de Minas
Gerais, e mantém sob segredo até
de amigos e parentes a localização
da fazenda onde tem dormido. A
Folha conseguiu achá-la, na última quarta-feira, após obter a indicação de um homem que prestou serviços para ele -e que pede
para não ser identificado.
O empresário, porém, havia saído e, mesmo depois de pedidos
feitos a familiares e ao advogado
dele, não quis dar entrevista.
A nova propriedade dele fica a
45 km do centro de Patrocínio, cidade de 80 mil habitantes onde
Capuano foi criado e onde seus
parentes mantêm casas, posto de
gasolina, agência de entregas e, há
63 anos, um jornal semanal.
O trajeto para localizá-la inclui a
ida ao km 33 da estrada que leva a
Perdizes. De lá, mais 9 km em
uma via de terra. Por fim, é preciso entrar na propriedade de um
fazendeiro conhecido por Coelho,
abrir duas porteiras particulares
(que, dependendo da hora, são
trancadas com cadeados) e percorrer mais de 1 km ao redor de
bois, vacas e plantações.
Marinéia, mulher do caseiro de
Capuano, contou que as duas casas da fazenda terminaram de ser
erguidas há dois meses. Enquanto
fazia a obra, ele passou a acumular processos de cobrança de dívidas na Justiça de São Paulo - já
são 13, sendo 12 que deram entrada de novembro para cá.
Ela afirmou ainda que Capuano
costuma dormir lá durante toda a
semana, enquanto a mulher dele,
Valéria, e os dois filhos vão à propriedade somente aos sábados e
domingos -já que vivem em
Uberlândia, também em Minas, a
152 km de Patrocínio.
Embora durma na fazenda, Capuano vai com frequência ao centro do município onde passou a
infância. É conhecido de políticos
e de comerciantes. Na última segunda-feira, por exemplo, almoçou na casa do irmão, Luiz Carlos,
que é gerente da Caixa Econômica
Federal e dono de um sítio onde,
nas noites de terça-feira, os amigos da família se reúnem para jogar futebol de campo.
Na terça e na quarta passada, a
camionete Dakota vermelha de
Capuano, com placa DCW-4541,
de São Bernardo do Campo (onde
ele vivia até 2002), podia ser vista
no posto de gasolina da família.
Luiz Carlos dizia que ele havia saído com a Fiat Doblô da mulher.
Ao saber que a reportagem estivera na fazenda do irmão dele,
Luiz Carlos explicou: "Eu não a
conheço muito bem, não costumo ir lá." Luiz Carlos também
afirmou que seu irmão desistiu
dos negócios com ônibus.
Estratégia
O advogado Helio Nogués Moyano foi contatado por Capuano
para ser seu defensor criminal,
mas informou que deverá se manifestar somente após obter cópia
do inquérito, na semana que vem.
Parentes de Capuano dizem a
amigos em Patrocínio que ele é vítima de estelionatários que compraram suas viações de ônibus e
que ele se refugiou "por ter medo
de ser preso de forma injusta". A
intenção dele é depor, mas após
obter um habeas corpus, que evitaria qualquer tentativa de prisão.
O delegado Maurício Del Trono
Grosche, responsável pelas investigações, não fornece informações
do inquérito 28/03 sob a alegação
de que ele está sob segredo de Justiça. A Folha apurou que a polícia
considera haver provas suficientes contra Capuano e que deve pedir a prisão temporária dele.
A polícia já fez diligências em
São Paulo, São Bernardo do Campo, Foz do Iguaçu e Minas Gerais,
mas ainda não conseguiu encontrá-lo. O advogado Moyano diz
que nenhuma intimação oficial
chegou a Capuano, mas que, se a
polícia quiser, pode deixar recados nos antigos endereços comerciais e residencial dele.
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