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AMBIENTE
Segundo sanitaristas, essa é uma das hipóteses para a disseminação de casos de cólera em Paranaguá, em 1999
Água de navio pode ter causado surto no PR
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Autoridades sanitárias do Paraná não descartam que a água de
lastro de navios tenha sido a causa
do surto de cólera que atingiu a
população portuária de Paranaguá, em março de 1999. À época, o
cólera matou três pessoas. Outras
463 sobreviveram à doença.
"A água de lastro foi uma das hipóteses para surto, em que pese o
vibrião colérico não ter sido isolado em armadilhas espalhadas pela baía", disse o médico veterinário da Vigilância Epidemiológica
da Secretaria da Saúde do Paraná
Ronaldo Trevisan, 42. O epidemiologista lembra que o vibrião
só foi isolado no pátio de caminhões do porto, onde o trânsito
de caminhoneiros vindos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
do Paraguai era intenso em razão
do escoamento da safra de soja.
No pico do surto, as autoridades
disseram que o cólera poderia ter
sido disseminado por alguém
contaminado no Brasil, mas a
suspeita nunca foi provada.
Estudos recentes apontam que
o vibrião, causador do cólera, pode resistir até 60 dias na água do
mar. "Animais queratinizados
(animais marinhos que se abrigam em casquinhas) podem albergar o vibrião por mais tempo
ainda", afirmou Trevisan.
O causador do cólera não gosta
de água suja, morre em poucos
dias nesse ambiente. A doença só
é transmitida pela ingestão de
água e alimentos contaminados.
O biólogo Jackson Bassfeld, do
Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos da Universidade Federal do Paraná, também
aponta a água de lastro como
"uma das possibilidades" para o
surto de cólera, "mas não a única". Ele integra uma equipe que
estuda a floração de micro-algas
na bacia de Paranaguá. A região é
considerada um dos maiores berçários de vida marinha da costa
brasileira e existe a preocupação
com espécies exóticas trazidas
por água de lastro de navios.
O biólogo diz que os problemas
ambientais gerados pelo vaivém
de navios não se restringem ao
risco de disseminação de doenças. Os riscos também se traduzem em fatores socioeconômicos.
"Em se tratando de floração de
micro-algas que levem à letalidade de peixes ou à proibição da
pesca, as comunidades que sobrevivem dessa atividade são as primeiras a sofrer diretamente."
Cerca de 1.700 navios atracam
por ano em Paranaguá. Numa estimativa grosseira, as embarcações despejam na faixa de cais 20
milhões de m3 de água de lastro. O
cálculo é do engenheiro naval
Geert Jan Prange, que representa
sociedades classificadoras internacionais e é vice-presidente da
Sociedade Amigos da Marinha.
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