|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁLCOOL EM XEQUE
Em agosto, todas as vítimas de acidente, queda ou briga atendidas em Paulínia nos fins de semana estavam alcoolizadas
Projeto estuda elo entre bebida e violência
DA REPORTAGEM LOCAL
No último mês, 126 pessoas deram entrada no pronto-socorro
de Paulínia nos finais de semana
após se envolverem em acidentes
de trânsito, quedas ou brigas. Para a surpresa dos médicos e dos
pesquisadores, 100% delas estavam alcoolizadas.
A segunda etapa do projeto desenvolvido na "cidade-laboratório" é pesquisar a relação do álcool com a violência. Um grupo
de estudantes universitários, que
recebe bolsa de estudo da Prefeitura de Paulínia, se reveza em
plantão no PS das 18h de sexta-feira às 18h de domingo.
Todas as pessoas que chegam ao
serviço de emergência são submetidas ao bafômetro e respondem a um questionário. Segundo
a estudante de psicologia Miriam
Rabelo, 22, que participa do projeto, o menor nível de álcool no
sangue encontrado foi de 0,13% e
o maior, de 0,37% - acima de
0,06% a pessoa é considerada alcoolizada e é proibida de dirigir.
O índice indica a concentração
de álcool presente no sangue da
pessoa. Um nível de 0,37%, por
exemplo, leva à perda de consciência, paralisia e risco de morte.
"Às vezes, o motorista que traz a
pessoa alcoolizada está tão bêbado quanto ela. Imagine o risco
que isso representa à sociedade",
afirma a psicóloga Solange Maria
Trainotti, 41, coordenadora comunitária do projeto.
Segundo ela, além dos bares que
não restringem a venda de bebidas alcoólicas a menores, outro
grande problema da cidade são as
festas realizadas em chácaras alugadas nos arredores, que reúnem
muitos adolescentes. "Eles pagam
de R$ 10 a R$ 15 para entrar e podem beber cerveja e capirinha à
vontade", afirma.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, os dados iniciais da pesquisa realizada no pronto-socorro são "surpreendentes" e revelam o custo social do álcool.
"É uma situação estarrecedora.
Surpreendeu a todos", afirma o
pesquisador Marcos Romano. Segundo ele, a maioria das pessoas
que chegaram alcoolizadas são jovens que trabalham durante o dia
e que se embriagam à noite.
Romano afirma que a pesquisa
realizada nos bares revelou que os
donos dos estabelecimentos não
impõem nenhum limite à quantidade que um cliente pode comprar e consumir no local. A maioria também não se sente responsável pela pessoa que se embriaga
no seu bar, além de permanecer
vendendo bebida alcoólica a um
cliente já alcoolizado.
Estima-se que cerca de 31 mil
pessoas morram por ano no trânsito no Brasil. De acordo com vários estudos em diferentes capitais, entre 50% e 70% das vítimas
estavam alcoolizadas ou foram vítimas de alguém alcoolizados. Na
Dinamarca, são apenas 8%.
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) do ano
passado, mostrou que 13,4% dos
acidentados que entravam no
pronto-socorro do Hospital São
Paulo estavam embriagados ou
foram vítimas de alguém que tinha bebido demais. A maioria tinha tomado o equivalente a seis
latas de cerveja ou 250 ml de destilado nas últimas seis horas.
A associação álcool-direção é
tão nefasta no país que a própria
indústria de bebida está se empenhando em participar de campanhas de redução de danos. A Ambev, uma das maiores fabricantes
de cerveja, já investiu em anúncios incentivando o uso do táxi e a
escolha do "amigo da vez", alguém do grupo que se candidata a
não beber e dirigir. O próximo
passo é a doação de bafômetros
para as Polícias Militares, que já
começou com 2.000 para o Distrito Federal.
(CLAUDIA COLLUCCI E AURELIANO BIANCARELLI)
Texto Anterior: Álcool ao alcance de adolescentes Próximo Texto: Mais rigor na idade reduz dano nos EUA Índice
|