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Especialistas criticam modelo repressivo
DA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém duvida que a "educação pela punição" funciona no
trânsito, mas muitos condenam
esse modelo. "Normas são necessárias, mas não se pode basear
uma política de prevenção em cima de uma política repressiva",
diz o psiquiatra Dartiu Xavier da
Silveira, da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp).
Segundo ele, esse conceito é
condenado mesmo por especialistas norte-americanos e rejeitado no Canadá e na maioria dos
países europeus. "Normas impostas não são instrumentos de prevenção e mudança de comportamento", diz Silveira.
"Caso contrário, corre-se o risco
de transformar a norma numa ingerência na vida privada das pessoas. Aí vem o aprisionamento,
acaba a individualidade e a democracia. O Estado hoje determina
onde e a qual hora você pode beber, amanhã determinará o que
você pode comer e, em seguida,
quando você poderá fazer sexo."
Segundo Silveira, tais práticas
florescem nos EUA por ser lá o
país "da guerra contra as drogas".
"Florescem lá e em países muçulmanos, onde prevalecem ideologias maniqueístas, de fundamento religioso, onde existe o mocinho e o bandido."
Agindo pelo medo
A psicoterapeuta Helena Lima,
professora do Centro de Educação da PUC, vê nesse modelo
"mais repressão que educação".
"É um adestramento no qual as
pessoas agem por medo, não
preocupadas com elas mesmas ou
com os outros", afirma.
"Se punição resolvesse, o sistema penitenciário não seria o fracasso que é." Ela cita o caso dos
radares, que reduziram a velocidade nas vias. "As pessoas estão
sendo educadas? Não, estão só fugindo das multas."
A idéia de antes ouvir a comunidade, para trabalhar em sintonia
com ela, como se pretende em
Paulínia, também seria um recurso com viés deformado. "Você
conduz as pessoas de tal forma
que elas passem a achar que estão
fazendo o que de fato gostariam
de fazer", diz Lima.
Mesmo o projeto da "lei seca",
do fechamento dos bares em determinados horários, é visto como uma "estratégia para modelar
o comportamento que as pessoas
devem ter", diz Xavier da Silveira.
"O que pode parecer um respeito
é um desrespeito à comunidade."
O psiquiatra diz que medidas
como o fechamento de bares "só
são justificáveis em situação de
crise". "É aceitável numa situação
de exceção, mas não como princípio de tratamento. Isso é incompatível com a liberdade."
Silveira, no entanto, concorda
com os estudos que demonstram
uma queda da violência quando
os bares estão fechados.
Aliás, entre as políticas pregadas
pela Organização Mundial da
Saúde estão o aumento do preço
das bebidas, a proibição da propaganda e mesmo a redução no
número de bares.
(AB E CC)
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