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AMBIENTE
Ter área verde perto, sonho de muito paulistano, não é prioridade de famílias que vivem em áreas invadidas e sem estrutura
"Depois que derrubaram a mata, melhorou"
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem não tem emprego,
onde morar, água encanada, luz
elétrica, coleta de esgoto, escola
para os filhos nem posto de saúde,
a floresta é um luxo com o qual
não se convive. São as árvores ou
a única oportunidade de ter um
teto e uma vida menos miserável.
"Quando cheguei aqui, há dez
anos, dava para contar as casas
nos dedos. Era tudo verde. Era
bem bonito, mas a luz vinha de
gato [ligação ilegal], a gente pegava água de poço, não tinha nada.
Depois derrubaram tudo e melhorou. Hoje tenho energia, água
encanada. Só o esgoto não tratam,
mas a gente joga no córrego",
conta Maria D'Ajuda de Oliveira,
29, desempregada, dois filhos.
Ela foi uma das primeiras moradoras do Jardim Paraná, um dos
loteamentos clandestinos mais
recentes de Brasilândia (zona
norte de SP), aberto no começo
dos anos 90. As ruas, casas e barracos invadiram uma boa parte
da serra da Cantareira, chegando
à fronteira com o parque estadual.
"Daqui em diante, não pode
mais avançar porque é área protegida", diz Josivaldo de Lima Santos, 29. "Sei que não é bom desmatar porque fica mais fácil ter
desabamento. Mas aqui nunca
aconteceu isso, não. E também
são as árvores ou a gente", diz.
Santos mora com a mulher e três
filhos em uma encosta do bairro.
O casal está desempregado.
Na beira do córrego que separa
o Jardim Paraná do parque da
Cantareira, Silvana Rodrigues de
Faria, 20, uma das mais novas
moradoras do loteamento, reclama da mata. "Tenho medo", diz.
A vista verde é o sonho de consumo de muita gente que tem a varanda do vizinho como horizonte.
No meio da floresta está um dos
poucos locais de lazer das crianças: o que restou da primeira captação de água da Cantareira.
No outro extremo da cidade, na
Chácara Bananal (Jardim Ângela,
zona sul), as crianças brincam nos
tocos que restaram das árvores
queimadas para dar lugar a barracos como o da família de Cláudio
Alves, 31, e Maria Aparecida da
Silva, 30, que vivem numa encosta
há quatro meses, com três filhos.
Embaixo do barranco está a rua
da Mina, onde havia uma fonte de
água potável, hoje contaminada
por causa do esgoto jogado em
fossas malfeitas. Mas é da água
poluída mesmo que todos se servem, porque o poder público não
pode levar infra-estrutura ao bairro, que fica na área de mananciais
da represa Guarapiranga.
"E eles continuam queimando
as árvores para construir mais casas porque ninguém tem dinheiro
para pagar aluguel", afirma Alves.
(MARIANA VIVEIROS)
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