São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Outro lado

Apoio a fumante é paternalismo estatal, diz governador Serra

Para ele, ajuda do Estado é educacional; Secretaria Estadual da Saúde diz que responsabilidade pelo tratamento é do município
DA REPORTAGEM LOCAL

"Haja paternalismo estatal". Foi assim que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ex-ministro da Saúde, rebateu as críticas por querer criar uma lei para restrição do uso do tabaco sem a ampliação de programas de ajuda ao fumante.
Segundo o governador, em entrevista na última terça-feira, o apoio do Estado é basicamente "educacional" para "demonstrar os males que isso faz". "Porque os remédios para fumantes não estão no SUS, que são caríssimos. E também, não é uma coisa 100%. Se tivesse uma vacina, ou alguma coisa que imediatamente liberasse do cigarro, certamente estaria".
Serra disse que pretende criar campanhas educativas na TV para educar principalmente os jovens. "A gente faz educacional sempre. Eu mesmo, no Ministério da Saúde, proibi a propaganda, que era propaganda enganosa. Introduzimos as fotos no maços do cigarros como advertência. E o fumo caiu no Brasil. Agora, precisa continuar essas medidas", afirmou.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que o atendimento ao fumante é, pela convenção do SUS, responsabilidade do município. Em São Paulo, o Cratod trabalha nessa recuperação direta e, também, na capacitação de profissionais que atuam em todo Estado.
A diretora do centro, Luizemir Wolney Lago, diz que desde 2005 cerca de 1.000 profissionais foram capacitados e 141 municípios estão "envolvidos" na implantação de programas. A meta é cegar a 80% das 645 cidades até 2011.
"Você não pode obrigar o fumante a parar de fumar. Como você não pode obrigar o prefeito a fazer o programa", disse. "Eu sei que estou fazendo um trabalho enorme, estou tendo todo apoio do governo do Estado. Ninguém fez isso", afirmou.
De acordo com Luizemir, o principal problema na ampliação do atendimento em São Paulo é a distribuição de remédios pelo governo federal. "O problema nosso da medicação é muito sério. Para atender as pessoas você precisa tem que ter o remédio", disse. "O Ministério da Saúde ainda não encontrou uma forma de fazer uma distribuição adequada. As listas de espera enormes em todo lugar", afirmou.
"Se você atende 15 pacientes, ele manda para dez. E não é só para o Cratod. É para todo mundo. Ele baixa a quantidade que você pediu", disse.
O Ministério da Saúde não comentou a suposta falta de remédios. Ele informou que o responsável pelo assunto, Dirceu Barbano, não foi encontrado anteontem.
O governo federal informou que entre 2006 e 2008 gastou mais de 21 milhões em remédios, e que "inicia novo programa para aquisição de mais", o que deve resolver problema de abastecimento (que não nega nem admite existir).
Disse que "não tem como atender diretamente a população" e, por isso, repassa recursos aos municípios.
O ministério informou ainda que vai realizar uma radiografia do perfil de fumante adulto para melhorar o atendimento no país. Não foi informado quando a pesquisa ficará pronta.
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo não indicou ninguém para comentar o assunto. Disse, por meio de nota, que no passado atendeu 1.200 pacientes. Não informa, porém, se há problemas com filas.
A pasta diz ter 16 pontos de atendimento, mas inclui na lista a unidade em Pinheiros, onde os funcionários dizem não existir programa. O Cratod, que credencia as unidades, diz que o município tem menos de dez autorizadas a trabalhar.
O município diz ter investido no primeiro trimestre R$ 423.205,26 em remédios, contra R$ 36.847,92 mil do governo federal. Diz prever investir na compra de remédios R$ 4 milhões anuais "para fazer frente à demanda".


Texto Anterior: Odívia Carrano De Albuquerque (1912-2008): A boa memória da professora de Recreio
Próximo Texto: Advogado parou de fumar com ajuda pública
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.