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Ficha impediu contratação
DA REPORTAGEM LOCAL
Era a grande chance. Recém-casado e desempregado, Helder Miguel Fernandes Neves tinha passado em todos os testes para uma
grande empresa e só esperava o
telefonema que anunciaria sua
contratação. O assistente financeiro Walter Bento Rodrigues
também estava confiante de que
um telefone traria a notícia de que
o sonho de ser policial militar se
tornaria realidade.
A ligação telefônica da empresa
aconteceu, mas não com a notícia
que Neves esperava. O funcionário informou que ele tinha passado em todos os testes com mérito,
mas que na folha de antecedentes
constava que ele era um ex-detento. Cumprira pena de três anos
por tráfico de drogas em Guarujá
(litoral paulista).
Neves tentou explicar que era
um engano, que tinha documentos para provar que nesse período
em que supostamente estaria preso na verdade tinha se casado e até
feito uma viagem ao exterior. Não
adiantou e ele perdeu a vaga.
Pior: descobriu que existia um
mandado de prisão contra ele em
outro processo que apurava porte
ilegal de arma e tráfico. Teve de
conseguir às pressas um advogado para revogar a prisão. Então
descobriu que as acusações tinham relação com o furto de seus
documentos, na praia de Boracéia
(litoral paulista), em 1994. O verdadeiro criminoso usou seus documentos, cumpriu três anos de
prisão e foi embora. Oficialmente,
o ex-detento é Neves.
Ele conseguiu revogar a prisão
em 1999, mas até hoje tenta limpar seu nome. Fez o exame datiloscópico que comprovou que ele
e o autor dos crimes não são a
mesma pessoa e ainda espera que
os crimes sejam retirados de sua
folha de antecedentes.
"Mandei vários currículos nos
últimos anos, mas não tive resposta de nenhum. As empresas
consultam para ver se você tem ficha criminal", disse Neves, 35, pai
de um garoto de dois anos.
Walter Rodrigues, 32, não recebeu o telefonema como Neves,
mas acredita que foi descartado
por causa de sua filha criminal
onde consta porte ilegal de arma.
"Fui bem em todos os testes. Mas
a PM faz uma pesquisa e descobriu isso", afirmou.
Rodrigues disse que seu irmão,
que era assaltante de banco, foi
preso com uma arma com numeração raspada, em Taboão da Serra (Grande SP). Só que na delegacia ele apresentou a carteira de
identidade de Rodrigues.
Rodrigues disse que também
perdeu o emprego por causa de
sua ficha criminal. "Na mesma
época, eu era caixa de uma rede de
postos de gasolina e estava até
concorrendo ao cargo de gerente.
De repente, fui mandado embora
sem que ninguém explicasse o
porquê. Acho que eles também
descobriram."
(GP)
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