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Uniforme é amado e odiado por alunos
DA REPORTAGEM LOCAL
Gosto não se discute. Cada qual
tem o seu. Mas, quando se trata de
necessidade, a satisfação depende
de critérios básicos e impessoais.
É assim a relação dos alunos da
rede municipal de ensino com os
uniformes distribuídos pela Prefeitura de São Paulo.
Os alunos mais carentes receberam com entusiasmo os dois modelos de uniforme distribuídos
dentro do programa de Educação
Inclusiva, que substituiu roupas
furadas, rasgadas ou encardidas
que distinguiam essas crianças
das demais ou até impediam que
elas fossem para a escola.
Por outro lado, os alunos da rede municipal oriundos de famílias com alguma condição financeira, em especial os adolescentes,
desprezaram as peças.
"Recebi o uniforme e não uso
porque ele é ridículo", desdenha
uma aluna de 13 anos da Emef
Prof. Almeida Júnior, na zona sul,
que preferiu não revelar o nome.
Algumas de suas colegas disseram ter doado os uniformes para
"parentes que vivem no Nordeste
e não têm o que vestir".
Na porta da Emef Monteiro Lobato, na zona oeste, ao serem
questionados sobre o motivo de
não estarem usando o uniforme,
garotos brincaram: "O uniforme é
"vai-e-volta". Vai para casa e não
volta para a escola nunca mais".
Para Leny Magalhães Mrech,
professora da USP e especialista
em educação inclusiva, dar uniformes a adolescentes é voltar à
década de 50. "Ao institucionalizar o uniforme, a prefeitura tenta
formatar o adolescente. E isso é
tudo o que ele não quer."
Segundo a ONG Ação Educativa, que avaliou pontualmente os
recursos da Secretaria Municipal
da Educação empregados nos
programas de Educação Inclusiva, "a prioridade [de recursos]
atribuída aos uniformes é excessiva e, portanto, indevida, havendo
diversas outras necessidades anteriores na busca de uma educação de qualidade para todos."
Necessidade e repasse
Na opinião de José Luiz Garcia
Silva, 42, diretor da escola municipal Vargem Grande, na zona sul
de São Paulo, a falta de roupas era
um problema que afastava os alunos das aulas, especialmente os
adolescentes. "As crianças não ligam de vir com as roupas surradas. Mas o adolescente já é mais
vaidoso. Prefere faltar à aula a vir
com uma camiseta cheia de furinhos", diz. O uniforme escolar,
acredita ele, preencheu essa lacuna entre jovens de baixa renda.
Fã do uniforme da prefeitura,
Emerson dos Santos Dias, 12, não
pode mais usar o casaco nem a
calça recebidos em 2002 porque
as peças ficaram pequenas. "Passei o uniforme para a minha irmã.
Já deveria ter recebido outro, mas
chegaram conjuntos só para os
alunos mais novos", reclama.
Segundo a secretária municipal
da Educação, Maria Aparecida
Perez, o uniforme de tactel (para o
frio) não teve vencedor na licitação para 14 e 16 anos. Então, no
ano passado, alunos até uma certa
idade receberam o conjunto enquanto os mais velhos não.
"Quem precisa de um novo conjunto deve solicitá-lo na escola
para receber a reposição."
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