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Alunos da rede estadual aguardam vaga no município; uniforme e material gratuitos pesam na decisão dos pais
Benefícios provocam filas nas municipais
DA REPORTAGEM LOCAL
Um nova fila de espera tem se
formado nos livros de cadastros
das escolas municipais: são crianças já matriculadas na rede estadual que aguardam uma vaga no
ensino fundamental do município de São Paulo.
Só em duas escolas da coordenadoria de educação de Itaquera,
na zona leste de São Paulo, 896
crianças esperam vagas na 1ª e na
5ª séries. Em outras nove escolas
das regiões norte, sul e oeste, há
mais 1.500 alunos na fila de espera. A prefeitura não tem um balanço da fila em toda a cidade.
Os pais alegam várias razões para essa preferência: desde a proximidade da escola municipal até o
fato de a prefeitura distribuir gratuitamente uniforme e material
escolar, o que não acontece na rede estadual.
O caso de Jéssica Marques, 10, é
um exemplo. Ela estudou até o
ano passado na escola estadual
"Nobrezinha", que atende crianças da 1ª à 4ª série. Neste ano, já na
5ª série, a menina foi transferida
para o "Nobrezão", que, segundo
o pai, José Maria Marques, 54, fica
"a uns 20 minutos" da sua casa.
Desde julho do ano passado, ele
pleiteia uma vaga na Emef Eduardo Prado, que tem fila de espera
de 244 crianças para a 5ª série. "Fica mais perto da minha casa", justifica. Detalhe: apenas dois quarteirões separam as duas escolas.
A empregada doméstica Maria
Eliana Mendes, 44, vive situação
parecida. A filha Alessandra Mendes Araújo, 10, foi transferida para
a escola estadual Jardim Iguatemi
que, segundo a mãe, fica a 4 km de
sua casa. Desde o início do ano, a
mãe tenta transferir a filha para a
Emef Benedito Montenegro.
Mendes diz que, para manter a
filha na escola estadual, teria de
pagar R$ 50 mensais à perua escolar. Se conseguir vaga na Benedito
Montenegro, ela espera que a filha
seja beneficiada pelo Vai-e-Volta,
já que 2 km separam a sua casa da
escola municipal.
Ela também diz que não tem
condições de pagar uniforme e
material escolar para a filha, itens
que teria gratuitamente na rede
municipal. Mendes ganha R$ 300
mensais e conta que, em anos anteriores, a antiga escola da filha
fornecia o uniforme. "Para comprar material escolar, eu fazia
uma vaquinha na família." Ela
tem outros dois filhos, de 19 e 22
anos, que interromperam os estudos na 4ª e na 6ª série, respectivamente. Hoje, vivem de bico.
A desempregada Rosângela Fagundes de Sousa, 29, de Guaianazes, também na zona leste, matriculou a filha Jéssica Fagundes, 8,
na 3ª série de uma escola estadual,
mas está na fila de espera do CEU
Jambeiro desde o ano passado.
Ela tem outros três filhos
-Wendel, 2, Wellington, 3, e
Wilson, 4. Conseguiu uma vaga
em uma escola municipal de ensino infantil para Wilson, mas ainda aguarda vagas em creches da
região para os outros dois meninos. A única renda da família é o
salário de R$ 400 do marido, que
trabalha na Sabesp.
"Não tenho dinheiro para o uniforme e o material escolar. Se ela
conseguir vaga no município, são
duas despesas a menos."
Segundo a secretária da Educação, Maria Aparecida Perez, não
são apenas os programas de educação inclusiva que atraem alunos
da rede estadual. "É todo um conjunto de ações. Toda escola tem
sala de leitura, laboratório de informática etc."
A preferência pelo ensino municipal, afirma Perez, está sendo
verificada em todas as regiões da
cidade, mas o município não tem
como assumir os alunos da rede
estadual. "Temos um limite de
atendimento. Não há nenhuma
criança do ensino fundamental
fora da escola."
Perez diz que a rede estadual
tem diminuído vagas para alunos
do ensino fundamental. "A rede
estadual diminuiu de 1 milhão [de
vagas] para 750 mil."
Em nota enviada à Folha, a Secretaria de Estado da Educação
nega que tenha diminuído vagas.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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