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CAOS NO RIO
Nos dias em que facção do principal traficante do país realizou atentados, ação policial era voltada para prender Linho
Polícia prioriza caça a rival de Beira-Mar
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Depois da transferência de Luiz
Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, para o presídio de
Presidente Bernardes (SP), a polícia do Rio voltou a intensificar as
buscas ao seu maior rival no comércio de drogas: o traficante
Paulo César Silva dos Santos, 31, o
Linho, líder da facção criminosa
TC (Terceiro Comando).
Desde a saída de Beira-Mar da
penitenciária Bangu 1 na madrugada do dia 27, a Polícia Civil realizou três operações para tentar
capturar Linho nos morros da Pedreira e da Lagartixa (ambos em
Costa Barros, zona norte), dois de
seus principais redutos.
Além disso, em outras duas ocasiões, carros da Polícia Militar foram atacados por integrantes da
quadrilha do líder do TC na favela
Baixa do Sapateiro (complexo da
Maré, zona norte) quando realizavam ações para reprimir o comércio de drogas no local.
Tropas federais na rua
Os confrontos em áreas do Terceiro Comando ocorreram mesmo com tropas do Exército ajudando no combate à violência na
cidade. Os cinco conflitos resultaram na morte de 12 supostos traficantes e de um policial militar.
A ofensiva policial cresceu após
o Carnaval, quando um acordo
entre os governos estadual e federal montou a Operação Guanabara, na qual as Forças Armadas se
juntaram ao patrulhamento habitual da capital fluminense.
A operação foi lançada como
resposta aos atentados promovidos por narcotraficantes na última semana de fevereiro na região
metropolitana do Rio. Curiosamente, o terror foi promovido pela organização criminosa Comando Vermelho, cujos principais líderes já estão presos.
Uma das razões que levou a polícia a intensificar as buscas a Linho foi a descoberta, por meio de
grampos telefônicos autorizados
pela Justiça, de que o traficante
encomendou um carregamento
de 50 fuzis vindos do Paraguai.
O material teria chegado ao Rio
na noite da última quarta-feira e
foi distribuído, segundo a polícia,
pelos redutos de Linho, entre eles
a Pedreira e a Maré.
Segundo os policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas
que realizaram as gravações, Linho pagou R$ 8.000 por cada fuzil. As investigações indicam que
as armas foram compradas de um
fornecedor de São Paulo, que
também abasteceria o PCC (Primeiro Comando da Capital). O
nome dele é mantido em sigilo.
Armas apreendidas
Três dos fuzis que chegaram ao
Rio foram apreendidos na blitz no
morro da Pedreira da última
quinta-feira, segundo investigadores. A ação resultou na morte
de sete supostos traficantes. Dois
deles seriam sobrinhos de Linho.
No dia seguinte, em nova operação na favela, a polícia apreendeu
mais um fuzil e prendeu um dos
supostos gerentes do líder do TC,
Anderson Luís Cindra Caetano.
A mobilização para capturar Linho começou horas depois da ida
de Beira-Mar, líder da organização criminosa Comando Vermelho, para São Paulo. No mesmo
dia, policiais foram cumprir mandados de prisão contra ele no
morro da Lagartixa. Foram recebidos a tiros. Na ação, cinco supostos traficantes morreram.
Segundo a coordenadora de Inteligência da Polícia Civil, inspetora Marina Maggessi, o comandante do Terceiro Comando é o
traficante mais bem armado do
Estado do Rio de Janeiro. De acordo com ela, sua quadrilha teria em
seu poder pelo menos 300 fuzis.
Linho se tornou o principal rival
de Beira-Mar depois da morte de
Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê,
durante a rebelião no presídio
Bangu 1 no ano passado. Uê liderava a facção ADA (Amigo dos
Amigos), aliada do Terceiro Comando. Com sua morte, Linho
herdou o controle da quadrilha.
Além de atuar no varejo, ele
também é "matuto" (fornecedor
de drogas), pois, segundo a polícia, traz o produto diretamente de
países produtores, como o Paraguai e a Bolívia, assim como faz
Beira-Mar com guerrilheiros das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Linho controla 12 das 15 favelas
do complexo da Maré e os morros
da Pedreira e da Lagartixa. Ainda
dita as regras do tráfico no morro
Jorge Turco e no conjunto habitacional Amarelinho, ambos na zona norte. Passou a dominar também antigos redutos de Uê, como
o morro do Juramento (zona norte) e o complexo de favelas do Caju (zona portuária).
Linho nasceu na Fazenda Botafogo (zona norte). Foi preso pela
primeira vez em 1990, ao assaltar
uma farmácia. Sua captura é a
prioridade da polícia fluminense
desde a prisão de Elias Pereira da
Silva, o Elias Maluco, do CV, em
setembro passado, ainda no governo de Benedita da Silva (PT).
Procurado em São Paulo
A polícia de São Paulo também
está interessada na prisão de Linho. O Denarc (Departamento de
Investigações sobre Narcóticos)
possui um inquérito específico
sobre o traficante e apurou que ele
costuma frequentar shoppings e
restaurantes na capital paulista.
Há cerca de mês, Ronaldo Ferreira do Nascimento, 28, o Mocotó, foi preso na via Dutra, em Seropédica (Baixada Fluminense),
quando voltava de São Paulo. Segundo a polícia, ele seria um dos
responsáveis pelo esquema de lavagem de dinheiro de Linho, na
região do ABC paulista.
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