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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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CAOS NO RIO

Nos dias em que facção do principal traficante do país realizou atentados, ação policial era voltada para prender Linho

Polícia prioriza caça a rival de Beira-Mar

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Depois da transferência de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, para o presídio de Presidente Bernardes (SP), a polícia do Rio voltou a intensificar as buscas ao seu maior rival no comércio de drogas: o traficante Paulo César Silva dos Santos, 31, o Linho, líder da facção criminosa TC (Terceiro Comando).
Desde a saída de Beira-Mar da penitenciária Bangu 1 na madrugada do dia 27, a Polícia Civil realizou três operações para tentar capturar Linho nos morros da Pedreira e da Lagartixa (ambos em Costa Barros, zona norte), dois de seus principais redutos.
Além disso, em outras duas ocasiões, carros da Polícia Militar foram atacados por integrantes da quadrilha do líder do TC na favela Baixa do Sapateiro (complexo da Maré, zona norte) quando realizavam ações para reprimir o comércio de drogas no local.

Tropas federais na rua
Os confrontos em áreas do Terceiro Comando ocorreram mesmo com tropas do Exército ajudando no combate à violência na cidade. Os cinco conflitos resultaram na morte de 12 supostos traficantes e de um policial militar.
A ofensiva policial cresceu após o Carnaval, quando um acordo entre os governos estadual e federal montou a Operação Guanabara, na qual as Forças Armadas se juntaram ao patrulhamento habitual da capital fluminense.
A operação foi lançada como resposta aos atentados promovidos por narcotraficantes na última semana de fevereiro na região metropolitana do Rio. Curiosamente, o terror foi promovido pela organização criminosa Comando Vermelho, cujos principais líderes já estão presos.
Uma das razões que levou a polícia a intensificar as buscas a Linho foi a descoberta, por meio de grampos telefônicos autorizados pela Justiça, de que o traficante encomendou um carregamento de 50 fuzis vindos do Paraguai.
O material teria chegado ao Rio na noite da última quarta-feira e foi distribuído, segundo a polícia, pelos redutos de Linho, entre eles a Pedreira e a Maré.
Segundo os policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas que realizaram as gravações, Linho pagou R$ 8.000 por cada fuzil. As investigações indicam que as armas foram compradas de um fornecedor de São Paulo, que também abasteceria o PCC (Primeiro Comando da Capital). O nome dele é mantido em sigilo.

Armas apreendidas
Três dos fuzis que chegaram ao Rio foram apreendidos na blitz no morro da Pedreira da última quinta-feira, segundo investigadores. A ação resultou na morte de sete supostos traficantes. Dois deles seriam sobrinhos de Linho.
No dia seguinte, em nova operação na favela, a polícia apreendeu mais um fuzil e prendeu um dos supostos gerentes do líder do TC, Anderson Luís Cindra Caetano.
A mobilização para capturar Linho começou horas depois da ida de Beira-Mar, líder da organização criminosa Comando Vermelho, para São Paulo. No mesmo dia, policiais foram cumprir mandados de prisão contra ele no morro da Lagartixa. Foram recebidos a tiros. Na ação, cinco supostos traficantes morreram.
Segundo a coordenadora de Inteligência da Polícia Civil, inspetora Marina Maggessi, o comandante do Terceiro Comando é o traficante mais bem armado do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com ela, sua quadrilha teria em seu poder pelo menos 300 fuzis.
Linho se tornou o principal rival de Beira-Mar depois da morte de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, durante a rebelião no presídio Bangu 1 no ano passado. Uê liderava a facção ADA (Amigo dos Amigos), aliada do Terceiro Comando. Com sua morte, Linho herdou o controle da quadrilha.
Além de atuar no varejo, ele também é "matuto" (fornecedor de drogas), pois, segundo a polícia, traz o produto diretamente de países produtores, como o Paraguai e a Bolívia, assim como faz Beira-Mar com guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Linho controla 12 das 15 favelas do complexo da Maré e os morros da Pedreira e da Lagartixa. Ainda dita as regras do tráfico no morro Jorge Turco e no conjunto habitacional Amarelinho, ambos na zona norte. Passou a dominar também antigos redutos de Uê, como o morro do Juramento (zona norte) e o complexo de favelas do Caju (zona portuária).
Linho nasceu na Fazenda Botafogo (zona norte). Foi preso pela primeira vez em 1990, ao assaltar uma farmácia. Sua captura é a prioridade da polícia fluminense desde a prisão de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, do CV, em setembro passado, ainda no governo de Benedita da Silva (PT).

Procurado em São Paulo
A polícia de São Paulo também está interessada na prisão de Linho. O Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) possui um inquérito específico sobre o traficante e apurou que ele costuma frequentar shoppings e restaurantes na capital paulista.
Há cerca de mês, Ronaldo Ferreira do Nascimento, 28, o Mocotó, foi preso na via Dutra, em Seropédica (Baixada Fluminense), quando voltava de São Paulo. Segundo a polícia, ele seria um dos responsáveis pelo esquema de lavagem de dinheiro de Linho, na região do ABC paulista.


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