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"A escola está na linha de tiro"
DA SUCURSAL DO RIO
Uma nova proibição imposta
pela lei do tráfico chegou às escolas do Rio: transferências de alunos que, moradores de uma favela
dominada por uma facção criminosa, precisam atravessar territórios rivais a caminho das aulas.
Se o aluno mora em uma favela
dominada por uma facção e frequenta uma unidade que fica em
zona dominada pela facção rival,
está sujeito a riscos e ameaças.
Um relatório oficial da Secretaria Municipal da Educação lista,
entre os problemas de violência
enfrentados pelas escolas, casos
de alunos que moram em locais
dominados por uma facção e são
agredidos quando, no caminho
para a escola, cruzam territórios
de facções inimigas.
Uma professora da rede municipal conta que, quando isso
acontece e os pais pedem a transferência do filho, a orientação é
para aceitar o pedido. "Se o pai ou
mãe alega questão de segurança, a
gente tem a sensibilidade de ajudar", afirma ela.
O relatório da secretaria afirma
que, em 2000, 53% dos estabelecimentos da rede relataram problemas com a violência externa, como tiroteios, uso e tráfico de drogas na porta e dentro da escola e
efeitos da guerra do tráfico.
"Chegam ao ponto de [os diretores das escolas" terem de separar em turmas diferentes alunos
que moram em comunidades dominadas por comandos inimigos", diz o relatório.
Quando começa o tiroteio, professores e alunos das escolas municipais já têm uma orientação:
levar as crianças para os corredores, para longe das paredes externas dos prédios.
Quem estiver no segundo andar
deve descer imediatamente. Deitados ou sentados no chão, os
professores tentam então controlar o pânico dos alunos, contando
histórias e cantando.
"A gente sabe de casos em que
as crianças, quando começam a
ouvir tiros, ficam mexendo o dedinho também como se estivessem atirando. Que qualidade de
trabalho pedagógico a gente faz
nesse momento?", indaga Márcia
Simões Mattos, 39, coordenadora
da 4ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) da Secretaria
Municipal da Saúde.
Márcia tem sob sua responsabilidade 100 mil alunos em 134 escolas. Sua área de atuação inclui favelas violentas em bairros como
Ilha do Governador, Maré, Vigário Geral, Penha e Bonsucesso.
Para a educadora, a situação de
violência chegou a um nível nunca antes visto. "A escola está na linha de tiro", afirma.
Normalmente, as aulas dessas
escolas são interrompidas em dia
de tiroteio.
(FE)
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