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Vice-reitor diz que falta planejamento
DA REPORTAGEM LOCAL
O vice-reitor da USP, Hélio Nogueira da Cruz, que preside a comissão de docentes responsável
pela gestão da universidade, afirma que falta planejamento de alguns departamentos da FFLCH
ao encaminhar pedidos à reitoria.
Para ele, a greve dos estudantes
ganhou dimensão política. Leia a
seguir alguns trechos da entrevista dada à Folha.
Folha - A crise na FFLCH se deve a
falta de recursos ou má gestão?
Hélio Nogueira da Cruz - A universidade tem muitos projetos e
os recursos nem sempre são suficientes. Na parte de pessoal, temos uma comissão que analisa os
pedidos das unidades, associados
aos planos de metas acadêmicas.
Folha - Quais são esses critérios?
Cruz - Carga didática, produção
científica e novas áreas do conhecimento, entre outros. Os especialistas sabem quais são os grandes
trabalhos. São os pares que avaliam todas as solicitações. Assim
temos trabalhado nos últimos oito anos. As unidades têm comportamentos diferenciados, necessidades diferenciadas. Algumas fazem as suas solicitações
mais bem feitas que as outras, têm
cultura de fazer planejamento.
Outras têm dificuldade até de comunicação.
Folha - Alunos e professores da
FFLCH dizem que há descaso dos
gestores para com a unidade...
Cruz - O que quer dizer "gestores"? Não é um grupo que contrata os profissionais. A gestão é feita
por professores que chegaram aos
seus cargos, direta ou indiretamente, por um processo eletivo.
Como poderia haver descaso? Você acha possível um projeto vindo
de uma unidade ser olhado com
menos atenção que outros durante oito anos, dez anos, num ambiente em que as pessoas falam livremente? Vou lhe mostrar algo
da filosofia. Em 19/10/2001, eles fizeram uma solicitação de 32 professores, três dos quais para letras
clássicas. Era fim de outubro, com
um semestre pela frente, e eles pediram três [com ênfase". A mesma coisa foi para ciência política,
antropologia e sociologia. Acho
que isso mostra que a pontaria lá
não estava muito boa... Em 16/4,
recebemos outra solicitação. Se
você comparar o que foi pedido
para este ano e para os próximos
dois anos em relação ao pedido
anterior, proporcionalmente, vai
encontrar pouca relação. Será que
nós estávamos com má vontade
com os pedidos, se eles oscilam
tanto em seis meses de diferença?
Em um outro documento, de 15
de maio último, eles reconhecem
que esqueceram de pedir dez professores. É muita oscilação. Dos
32 pedidos feitos inicialmente,
nós demos 26. Isso é mais que
10% do que usualmente damos
por ano à universidade toda. Oferecemos ainda professores para
ajudar nessa situação de transição, mas eles não quiseram.
Folha - Isso justifica professores
lecionarem para 200 alunos em salas sem ventilação e microfone?
Cruz - Há disciplinas que podem
ter mais problemas, salas mal preparadas para receber um número
grande de alunos. Mas têm coisas
das quais eu não posso ouvir falar,
como a falta de microfone. Não
posso acreditar que a unidade, depois de três anos, não tenha tido
recursos para comprar um microfone. Salas adequadas demora um
pouco. Quanto à contratações, eu
vou lutar até o fim para que a contratação de docentes seja feita
com critérios acadêmicos. Não será com critérios políticos que vamos ganhar alguma coisa.
Folha - O sr. quer dizer que essa
greve dos estudantes é política?
Cruz - Ela tem origem e necessidade reais e localizadas e ganhou
uma dimensão política. Não tenho nenhuma dúvida disso.
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