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Dona-de-casa perdeu um filho policial e teme que o caçula também morra da mesma forma
"PM morto é apenas um número", diz mãe
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A última semana foi apavorante
para a dona-de-casa Mercedes
Lorenzeto, 65. Ao lado do rádio,
ouvia atenta todas as reportagens
sobre os ataques a bases comunitárias e a carros da PM. Seu filho
caçula é soldado. Ela teme que ele
morra em serviço. Lorenzeto já
perdeu um filho dessa maneira.
Há quase três anos, seu filho
mais velho, Carlos, também soldado, morreu em um confronto
com bandidos na favela Paraisópolis, na zona sul. Ele tinha 39
anos e estava sozinho no carro. O
policiamento solitário havia sido
implementado pelo governo do
Estado como forma de ampliar o
número de carros da PM nas ruas.
"O policial quando morre é apenas um número a mais nas estatísticas", afirma Mercedes. Segundo ela, apenas um dos acusados
do crime foi preso. Ele ainda
aguarda o julgamento -que já foi
adiado três vezes. "Se o assassino
não pegar a pena máxima, vou picotar no tribunal a bandeira que
me deram no enterro."
A bandeira é uma das poucas
coisas que guarda do filho. Fora
ela, Mercedes conserva apenas o
uniforme -ainda cuidadosamente passado- e fotografias,
que guarda em uma caixa de papelão. Numa delas, Carlos aparece ao lado da mãe, fardado e sorridente. Era o dia da formatura.
"A gente estava feliz. Não podia
imaginar o que aconteceria", diz
Mercedes, devolvendo a foto na
caixa. Mostra outra, do casamento de Carlos. Depois, ele ao lado
dos filhos -três meninos. O casamento, porém, não deu certo, e
Carlos voltou para a casa da mãe,
no Embu (Grande São Paulo).
Naquela época, Mercedes tinha
uma lanchonete na frente da casa.
Com a morte do filho, diz, ficou
"desgostosa de tudo" e fechou o
negócio. Para se sustentar, ela alugou a casa onde morava por R$
300. Mudou-se para o cômodo
onde, antes, vendia as refeições.
Ali vive até hoje, com um neto,
um cachorro e um canário, ouvindo as notícias no rádio.
"Quando soube dos ataques, revivi tudo aquilo de novo. Tinha medo pelo meu filho. Penso nas
mães dos que morreram. É a pior
coisa que pode acontecer."
O filho caçula, segundo diz, não
tem medo dos ataques. "A família
é que teme", diz a mãe, que comemora como sua vitória de ter convencido o filho a voltar a estudar.
A meta é que, após formado, ele
possa exercer outra profissão.
Protesto
Amanhã, 37 entidades representativas de policiais militares e
civis farão, na avenida Paulista
(centro), o "enterro" da política
estadual de segurança pública.
Mulheres de policiais assassinados participarão do protesto.
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