|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
História determina ritual de cura
DO ENVIADO ESPECIAL
Os rituais de cura dos índios do
Médio e do Alto Rio Negro são
baseados nos episódios da história dessa população. O curandeiro
examina o doente, interpreta as
suas dores e determina os procedimentos para o tratamento.
Com o corpo encolhido, o paciente chega enrolado numa rede,
com dores intensas na parte esquerda da barriga. Quatro indígenas, com o rosto coberto por máscaras ou pinturas, estão ali para
providenciar a sua cura.
O yaí, nome que se dá ao pajé
nesse região do Alto Rio Negro,
traz um bastão na mão direita.
Seus acompanhantes são os kumus, os benzedores e auxiliares.
O yaí apalpa a barriga do paciente e começa a assoprar pelas
fendas de seu corpo. Traga um cigarro de palha e assopra a fumaça
entre os dedos das mãos e dos pés
do paciente.
Homem branco
Na crença desses povos, quem
traz a doença é o homem branco.
O que os indígenas sentem são
dores provocadas durante o longo caminho percorrido pelos ancestrais desde o surgimento dos
primeiros homens até a chegada a
seu abrigo natural, no Alto Rio
Negro.
As crenças variam de acordo
com as etnias, mas são muito semelhantes entre os 22 grupos que
habitam essa região.
Acredita-se que em algum lugar
na baía da Guanabara, onde está
hoje o Rio de Janeiro, milhares de
anos atrás, iniciou-se a grande
"viagem da transformação".
Durante essa viagem, até Ipanoré no rio Uaupés, a humanidade
foi sendo criada. Do interior da
Cobra-Canoa todos os grupos saíram para esse mundo no rio Uaupés, na região que considerada o
paraíso deles, uma espécie de
"terra prometida".
Os três personagens foram libertados pela grande serpente na
região das cachoeiras do Juru-Pari, no extremo alto do Uaupés, em
terras colombianas. Foram então
que desceram e deram descendência, já abaixo de muitas corredeiras, às muitas famílias que formaram os povos do Médio e do
Alto Rio Negro.
2.000 anos
Isso teria ocorrido há milhares
de anos. As notícias de grupos
nessa região datam de 2.000 anos,
quando os Tukano já eram os senhores das terras e empurravam
para as matas etnias mais servis e
dependentes da caça, como os
Hupda.
Na crença desses grupos, e especialmente na interpretação do yaí,
todas as dores e doenças são explicadas por algum episódio ao
longo dessa grande viagem. É da
leitura e interpretação do yaí, que
dependerá a cura daquele paciente. Os kumus estarão ao lado para
preparar chás e massagens com
ervas que aliviarão a dor do paciente. Depois de horas de "tratamento", o índio que chegou entrevado, já abre os olhos e faz gestos com as mãos.
Texto Anterior: Projeto recupera tradições indígenas Próximo Texto: Comportamento: Mulheres criam confraria da cachaça em Campinas Índice
|