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INIMIGO EM CASA
Preocupação de especialistas é que morte de toda uma geração impeça educação de filhos
Doença avança entre as mulheres
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Marilene da Conceição Ferreira, 33, estiver saindo
hoje da igreja que freqüenta em
Sapopemba, terá começado, do
outro lado do mundo, a 15ª Conferência Mundial de Aids. Marilene pegou Aids de um namorado, que já morreu. Casou-se
com outro doente, que se infectou por droga injetável e que já
morreu. Vive com a filha de sete
anos, que nasceu com o vírus.
Ela trabalha no projeto Elas
Por Elas, tentando convencer as
mulheres a usarem camisinha
com seus próprios maridos.
"Dos 700 adultos com HIV/
Aids que acompanhamos, a
maioria já é de mulheres, quase
todas infectadas por seus maridos", diz Robinson Fernandes
Camargo, diretor do Serviço
Ambulatorial Especializado em
DST/Aids Herbert de Souza Betinho, de Sapopemba, zona leste.
Estudos que o professor Ricardo Dias, chefe do Laboratório de
Retrovirologia da Unifesp, vem
fazendo em centros de testagens
de Santos também demonstram
o crescimento da epidemia entre
as mulheres. Entre as infecções
recentes, 60% são mulheres.
Marilene, na periferia de São
Paulo, sintetiza o que Bancoc está discutindo sobre a periferia do
mundo: o aumento da epidemia
entre heterossexuais na África e
na Índia, o uso de drogas injetável na Europa do Leste e na Ásia,
o avanço da doença entre entre
as mulheres e o aumento de infecção da mãe para o filho.
"A epidemia está provocando
na África um hiato de gerações",
diz Paulo Teixeira, que coordenou o programa de Aids para a
Organização Mundial da Saúde.
Ao dizimar uma geração inteira,
não haverá o pai ou a mãe para
passar cultura, valores e tradições para os filhos. Isso nunca
ocorreu na história da humanidade, dizem os especialistas.
Sem dirigentes, professores e
médicos, a segurança dos países
será gravemente abalada.
Em Angola, o presidente José
Eduardo Santos assumiu a luta
contra a Aids e convidou o infectologista David Uip, diretor do
Incor, para coordenar um programa de cooperação. "Ainda
nem sabemos quanto são os infectados. Começamos pela
transmissão vertical e pelos parceiros das gestantes", diz Uip.
Diferentemente do Brasil, lá
não se adota cesárea para gestantes infectadas -porque há
risco para o médico- nem se
desaconselha o desmame dos
bebês, pois não há como esterilizar o leite animal.
(AB)
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