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Só 28% ainda pagam prestações
DA REPORTAGEM LOCAL
A vida não é fácil nos Cingapuras. Lá, além da falta de dinheiro e
de áreas verdes que rondam muitos dos moradores da capital,
existe também um outro fantasma: o medo de perder o apartamento, de não ter o que deixar para os filhos, de não conseguir vender o imóvel se um dia precisar recuperar o dinheiro investido.
Como previa o BID, a insegurança jurídica sobre a posse do
imóvel -certamente aliada à falta de renda, pois 22% dos moradores não a têm- foi alimentando a inadimplência.
Em julho, de acordo com a Secretaria Municipal da Habitação,
71,58% dos moradores estavam
inadimplentes -com mais de
três prestações em atraso.
Os poucos que pagam sem interrupção os R$ 57 mensais pelo
uso do imóvel não sabem nem explicar os motivos que os levam a
persistir. "Não vou na conversa
dos outros [os que não pagam".
Pago porque é o trato", resume
Maria Ferreira dos Santos, 54, que
vive com o marido, o filho adolescente e uma coleção de centenas
de bonecas em um apartamento
do Cingapura Chácara Boa Vista
(zona leste) desde que o conjunto
foi inaugurado, há sete anos.
Do bar instalado em um trailer
na rua do conjunto habitacional e
dos bicos de pedreiro do marido,
Gabriel, a família tira "uns R$ 150,
R$ 200" por mês.
A prefeitura afirma que cerca de
20% dos beneficiários originais
do projeto já venderam seus imóveis -o que não é permitido pelo
Termo de Permissão de Uso. Na
Chácara Boa Vista, a estimativa
dos moradores é que a renovação
já tenha chegado a 50%.
"Dei de graça, por R$ 1.600. Vivia com medo de ir para a rua, eles
viviam ameaçando", diz a costureira Elza Pereira da Silva, 49, que
pagou apenas as oito primeiras
prestações do apartamento.
Por R$ 500, na época, ela comprou um barraco na favela que
ainda cerca o prédio. Hoje, diz
que vai voltar para Pernambuco.
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