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TÚNEL FANTASMA
Pagamentos foram feitos pela CBPO em 96; montante pode ser o dobro, pois contrato é de janeiro de 95
Empresa de sapateiro recebeu R$ 16,1 mi
DA REPORTAGEM LOCAL
A Lavicen - Construções e Locações de Máquinas de Terraplenagem figura como destinatária de
R$ 16,1 milhões supostamente
gastos pela CBPO com firmas
subcontratadas durante as obras
do túnel Ayrton Senna. Em tese,
ela teria fornecido tratores, carregadeiras e caminhões ao canteiro.
A empresa, porém, é fantasma.
Com sede fictícia em Abatiá (PR),
ela oficialmente pertence a Lavino
Kiil e a Joel Gonçalves Pereira.
Kiil, um sapateiro aposentado
que já teve os documentos extraviados uma vez, não sabe da existência da empresa. A assinatura
de Kiil no registro da Lavicen na
Junta Comercial do Paraná é
completamente diferente da de
sua carteira de identidade.
Já Joel Gonçalves Pereira responde a processo por estelionato
e falsidade ideológica -inclusive
contra a binacional Itaipu- e está desaparecido, segundo autoridades paulistas e paranaenses.
A Lavicen tem como representante legal o contador Francisco
Sacerdote, signatário do contrato
da locadora com a CBPO.
Em depoimento na Promotoria
paranaense, Sacerdote disse que
foi apenas funcionário da Lavicen, afirmou que não conhece o
sapateiro Kiil e disse que o dinheiro era repassado pela CBPO diretamente a Joel Pereira. Ele mesmo, como representante legal, recebia R$ 1.000 por mês da Lavicen
do início ao término da obra.
Nos anos 70, Sacerdote foi condenado a dois anos de prisão por
estelionato, mas esteve foragido
até a prescrição da pena, em 1997.
Ponta do iceberg
Para o Ministério Público, há indícios de que os R$ 16,1 milhões
que a CBPO afirma ter pago a Lavicen são parte dos R$ 106,1 milhões que teriam sido desviados
das obras do túnel. Para os promotores, porém, o valor repassado pela CBPO pode ser ainda
maior, pois o contrato entre as
duas empresas é de janeiro de 95.
A CBPO, no entanto, só apresentou à Promotoria as notas fiscais do ano seguinte. Ao Ministério Público, a empreiteira alegou
não ter os documentos de 95 porque a legislação tributária do país
só exige que eles sejam mantidos
em arquivo por cinco anos.
Para tentar saber o destino do
dinheiro repassado à empresa
fantasma, o promotor Luiz Salles
do Nascimento, da Promotoria de
Justiça da Cidadania, pediu no
mês passado a quebra do sigilo
bancário da Lavicen, de seus supostos proprietários e da CBPO.
O juiz concedeu, decretando sigilo das investigações.
Ilha de Jersey
Os promotores suspeitam que
haja relação entre a contratação
da empresa Lavicen pela CBPO e
contas mantidas pela família do
ex-prefeito Paulo Maluf na ilha de
Jersey. Em 10 de junho de 2001, a
Folha informou que Maluf e familiares têm contas bloqueadas
nesse paraíso fiscal.
Além de Maluf, aparecem como
donos de contas a mulher dele,
Sylvia, os quatro filhos do casal e
uma das noras dos Maluf. Os depósitos somam pelo menos US$
200 milhões. O ex-prefeito nega a
existência das contas.
Sobre a contratação de uma empresa que não existe, os advogados do prefeito dizem que a explicação cabe às empreiteiras.
O advogado do consórcio
CBPO-Constran, Pedro Estevam
Alves Pinto Serrano, contesta a
informação de que a Lavicen é
uma empresa fantasma.
"As empreiteiras alugaram
equipamentos dessa empresa",
afirmou Serrano, que questiona a
competência do Ministério Público para investigar o assunto.
(SC e CG)
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