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Terapia ajuda a superar sofrimento
DA REPORTAGEM LOCAL
A microempresária Terezinha
Lanbgraff Daher, 48, passou anos
lutando contra a bronquite crônica de Michel, 11, seu único filho.
"Sempre fui mãe e pai", diz ela,
que, solteira, teve o bebê.
Em dezembro de 1995, Terezinha e Michel estavam voltando
para casa do hospital para onde o
menino fora levado após nova crise da doença. Bem disposto, o
menino pediu para ir andar de patins com amigos do condomínio.
Terezinha concordou, mas deixou ele ir apenas após o jantar.
Michel comeu tão rápido que, minutos depois, quando a mãe saiu
da cozinha carregando o próprio
prato até a sala, já não o encontrou. Ele estava no banheiro vomitando. Só que Michel aspirou
os alimentos recém-digeridos e
morreu sufocado.
Terezinha diz não ter sentido
culpa pela morte do filho. O difícil
foi superar a dor e começar a refazer a vida: "Via meu filho no rosto
de outras crianças. Quando consegui vê-lo com os olhos do coração, comecei a recuperar forças
para lutar pelo meu trabalho, viver e ser feliz."
O psicólogo Antônio Carlos Pereira, 38, coordena o núcleo de
psicologia do Cravi (Centro de
Referência de Apoio à Vítima),
serviço que atende pessoas que
perderam parentes por morte
violenta. Ele diz que a morte de
um filho representa a inversão do
curso natural da vida (pais enterrando filhos), por isso é muito difícil de superar.
Terezinha guarda um desenho
feito por Michel em que aparecem
dois corações com a frase: "Nós
dois juntos somos mais fortes.
Sempre seremos mãe e filho."
"Há uma questão cultural e instintiva de que as mães cuidam dos
filhos. A morte deles muitas vezes
as fazem pensar que não foram
boas mães", diz Pereira.
Uma das terapias feitas com essas mães é colocá-las diante de
uma cadeira vazia onde está simbolicamente o filho. Começam a
ficar "curadas" do sentimento de
culpa quando, ao se colocarem no
lugar do filho, dizem: "mãe, você
fez tudo o que foi possível".
O filho de Mariana (nome fictício), 60, foi assassinado no final
de 98, quando, bêbado, interferiu
na briga de um casal vizinho, na
periferia da Grande São Paulo.
Mariana procurou o Cravi. Para
ela, a morte do filho era uma consequência da sua falha como mãe:
"Será que eu fui tão ruim assim?
Será que eu estou pagando o que
devo?".
(GA e AB)
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