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SAÚDE
Cirurgias em bebês estão mais seguras
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Vanessa era tão pequena quando foi operada que o corte da cirurgia em seu peito podia ser coberto com um "band-aid". Com
pouco mais de 1 kg, foi um dos
menores bebês a passar por uma
cirurgia de pulmão no mundo.
Hoje está bem, gordinha e sem
qualquer sequela.
Pediatras de grandes centros
hospitalares do país já colecionam histórias de sucesso em intervenções com bebês menores
do que esta página. Os avanços da
cirurgia pediátrica nas últimas décadas permitem que hoje as operações em crianças, até nas muito
pequenas, sejam mais seguras.
Três fatores foram fundamentais para o avanço: o melhor conhecimento do comportamento e
da evolução da criança após intervenções, o desenvolvimento de
técnicas de anestesia adequadas e
a utilização rotineira de nutrição
parenteral (por veia). Antes dela
era fácil manter um bebê que não
podia se alimentar hidratado, mas
não alimentá-lo. A desnutrição levava a outras complicações.
As mudanças que tornaram essas cirurgias mais seguras ocorreram ainda nos equipamentos de
monitorização, hoje especiais para o recém-nascido, e até nos fios
de sutura, cateteres e curativos,
atualmente feitos em miniatura
para os pequenos.
"Há 40 anos, a mortalidade pelas más-formações congênitas
[que nascem com a criança" era
de 80%. Há 20 anos, de 50%. Hoje
não passa de 10% a 15%", diz o
chefe do serviço de cirurgia pediátrica do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas de São Paulo, João Gilberto Maksoud.
As doenças congênitas são os
problemas mais comuns que exigem cirurgia no recém-nascido. E
o cirurgião-pediátrico-neonatal,
o cirurgião-geral do bebê, é o melhor profissional para tratá-las
por ser aquele que conhece em
profundidade sua anatomia e
procedimentos adequados.
"A criança não pode ser tratada
como um adulto em miniatura",
diz José Armando Mari, cirurgião-pediátrico-neonatal da Maternidade Santa Joana de São Paulo, que, com os colegas Marcos
Marques da Silva e Pedro Muñoz
Fernandez, operou Vanessa.
A cirurgia pediátrica nasceu como uma das subespecialidades da
cirurgia na década de 50, anos depois de um navio de guerra com
bombas explodir no porto da cidade canadense de Halifax, ferindo inúmeras crianças que estudavam em uma escola próxima. Foi
o empurrão para que os médicos
aprofundassem seus conhecimentos sobre a cirurgia infantil.
O profissional que se especializa
nesta área passa por dois anos de
estudos de cirurgia geral e mais
três de cirurgia pediátrica. Deve
ter ainda tarimba para lidar com
pais, avós e amigos que ficam
aterrorizados com a perspectiva
do bebê ir a um centro cirúrgico.
Fernandez explica que até no
momento de dar a notícia para os
pais é preciso ter cuidado, principalmente se a necessidade da cirurgia for informada ainda na
gravidez. "A mãe pode agredir o
feto com o estresse."
Em 80% dos casos é possível fechar o diagnóstico com um ultrassom e assim planejar a operação antes do nascimento. "A mãe
deve procurar uma maternidade
referenciada, com anestesistas
preparados e UTI", afirma um
dos vice-presidentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pediátrica, Manoel Carlos Velhote.
Com a descoberta precoce há
tempo para a família se preparar,
consultando um cirurgião para
saber das perspectivas e riscos.
Urgência
A urgência da cirurgia varia
muito. Para alguns problemas,
como a gastrosquise e a hérnia
ingnal (conheça as principais
doenças no quadro), tem de ser
feita logo após o parto. Outros casos podem esperar semanas e até
meses, caso de uma das anomalias do desenvolvimento sexual, a
criptorquidia (ausência de testículo na bolsa escrotal).
Outro fator de preocupação para os pais é a anestesia. Maksoud
explica que não há anestesia "fraquinha". "Felizmente damos a
dose conveniente, caso contrário
a criança pode ter problemas durante a operação." Os anestésicos
em grande parte são inalatórios e,
por isso, facilmente eliminados. A
criança deve entrar e sair chorando da sala de cirurgia, diz.
Não há um "tempo mínimo e
máximo de internação", como
costumam perguntar os pais. A
recuperação depende de uma série de fatores que não estão sob
controle do médico. Algumas
crianças têm de ficar até dois meses no hospital, diz o cirurgião
Marcos Marques da Silva.
A criança, no entanto, é um ótimo paciente cirúrgico. Seu metabolismo é mais rápido, o que facilita a recuperação. A cicatrização,
por exemplo, chega a ser duas vezes mais rápida que a de um adulto, explica Maksoud.
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