São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2005

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URBANIDADE

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A volta triunfal do pau-brasil

O geólogo Norberto Baracuí, 61, está prestes a se tornar o maior doador de mudas de pau-brasil de que se tem notícia na cidade de São Paulo. Dez anos atrás, porém, ele nunca tinha prestado atenção a um único exemplar dessa espécie. "Era apenas uma vaga referência nos livros de história."
Migrante nordestino, ele cursou geologia na USP -depois se tornou um dos fundadores do Colégio Equipe- e sempre teve uma reverência especial pelas árvores. "Vim do sertão da Paraíba. Árvore para mim significava riqueza e sombra." Em seu sítio, numa pequena praia do litoral de São Paulo, fez do plantio seu hobby favorito.
Até que, numa de suas viagens ao Nordeste -"adoro ir às festas de São João"-, ele foi apresentado, por acaso, a um majestoso pau-brasil. "Achei estranho que eu, geólogo, tivesse passado cinco décadas da minha existência sem ter a curiosidade de conhecer essa árvore tão simbólica para os brasileiros."
Tratou, então, de compensar o tempo perdido. Saiu à caça de livros não só nas bibliotecas mas também nos sebos para estudar sobre o pau-brasil. Nem se deu conta de que aquilo ia se transformando, para ele, numa mania.
Montou um viveiro de milhares de mudas no litoral, o que lhe deu a primeira frustração ecológica. Propôs uma doação para que estudantes das escolas de São Sebastião, no litoral paulista, plantassem mudas de pau-brasil em suas escolas. "O poder público não se interessou." Imaginava que, como os alunos são obrigados a estudar sobre a descoberta do Brasil e a exploração do pau-brasil, todos fossem gostar da experiência, pois seria possível misturar história com educação ambiental.
A lição iria mais longe, segundo ele. O pau-brasil habitava, em abundância, no litoral que ia do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro e desapareceu. "Existe aí a idéia de que, quando apenas se colhe, sem semear, tudo vai embora. É importante, na vida, a atitude de plantar."
No início deste ano, ele soube que se tramava, em São Paulo, a realização de um mutirão que envolveria a prefeitura e associações comunitárias para o plantio de árvores. Fez então a oferta de doação de 40 mil mudas, mas com uma condição: os alunos teriam de plantá-las em cada uma das mil escolas municipais. "Topamos na hora, é claro", disse o secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.
Com isso, pela primeira vez, o pau-brasil, imaginado como extinto, pelo menos pelos estudantes paulistanos será visto não apenas nos livros mas também nos pátios das escolas.


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