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Teste na Vila Madalena identifica atividade informal e constata falta de seguro de percurso e garagem fechada
Manobristas são "flanelinhas de luxo"
DA REPORTAGEM LOCAL
O motorista que passa pela rua
Fidalga, na Vila Madalena, zona
oeste de São Paulo, em uma noite
de sexta ou sábado é convidado a
deixar seu veículo no Estacionamento da Tia, perto do número
162. A placa luminosa na calçada
anuncia a existência de um serviço de manobrista. Mas, na frente
da propaganda, não há nenhum
bar, restaurante ou casa noturna.
O Estacionamento da Tia tenta
atrair os clientes dos estabelecimentos da mesma rua, cansados
de esperar em filas para estacionar nas demais empresas de valet.
O motorista que deixa a chave
com os "funcionários" do Estacionamento da Tia só não imagina que eles são, na verdade, flanelinhas de luxo. Esse valet não existe enquanto empresa, não tem garagens nem seguro -embora os
comprovantes entregues aos
clientes anunciem esse benefício.
O rapaz que coordena as atividades dele, que se identifica por
Lucas, diz que a segurança dos
clientes é a sua palavra. "Por enquanto, é um trabalho informal.
Mas estamos providenciando tudo", afirma Lucas, que passou a
atuar no começou deste ano.
O Estacionamento da Tia foi um
dos 11 valets testados pela Folha
nos últimos quatro meses, que
atendem a 17 bares e restaurantes
nas imediações das ruas Inácio
Pereira da Rocha, Fidalga e Luís
Murat, todas na Vila Madalena.
Essa "empresa" de manobristas
representa uma modalidade que
consegue burlar as recomendações do Procon. O órgão avalia
que os motoristas devem buscar a
reparação de danos não só com a
empresa que manobra, mas também com os estabelecimentos onde eles atuam. Os restaurantes,
bares ou casas noturnas são responsáveis mesmo que essas atividades sejam terceirizadas.
"O cliente é dele, está na porta
dele, ele também responde pelo
serviço prestado", afirma Maria
Lumena Sampaio, diretora de
atendimento do Procon.
Essa recomendação é, muitas
vezes, a única garantia dos clientes, já que os valets costumam ser
"nômades", sem sede própria,
podendo escapar sem deixar pistas, e dificilmente têm patrimônio
suficiente para bancar os custos
de batidas graves ou roubos.
Investimento
Segundo levantamento feito pela Folha em cartórios, das 11 empresas de manobristas pesquisadas, uma não existe oficialmente e
seis têm capital social inferior a R$
5.000 -preço insuficiente para a
compra de um Fusca 94. Na San
Park, ele é de apenas R$ 1.000.
O capital social representa os investimentos feitos na empresa. O
presidente da Federação dos Contabilistas do Estado de São Paulo,
João Bacci, explica que, se ele for
baixo e a empresa não constituir
uma reserva ou uma provisão para contingências, haverá um risco
"enorme" de ela não ter como ressarcir os prejuízos a terceiros.
Os serviços testados pela Folha
e seus respectivos estabelecimentos foram os seguintes: Wal Park
(Fidalga 33, Brancaleone e Enfarta
Madalena), Cia Valet (Galinheiro
e A Lanterna), ELN Valet Park
(Ópera Liz e Morrinson), Prudente Vallet Parking (Blen Blen), Art
Park Valet Service (Kingston), Villa's Park (Filial, Santa Gula e Entreposto da Lata), San Park (Officina das Pizzas e Matterello), Grill
da Vila, Koringa Park (Bom Motivo) e JRA (Venice), além do já citado Estacionamento da Tia.
De todos, só os manobristas do
Grill da Vila não são terceirizados.
No Bom Motivo e no Venice, as
empresas responsáveis já foram
trocadas nos últimos meses -para Wisard e Prudente Vallet Parking, respectivamente.
A Folha foi atendida nas últimas semanas por 7 dos 11 valets e
por 14 dos 17 estabelecimentos.
Do total, A Lanterna, Kingston,
Grill da Villa, Blen Blen, Filial,
Santa Gula, Entreposto da Lata,
Fidalga 33 e Galinheiro reconheceram ser responsáveis pelos veículos dos clientes. Bom Motivo,
Officina das Pizzas, Matterelo,
Ópera Liz e Morrinson disseram
que não arcariam com as falhas
cometidas pelos serviços de valet.
Os donos do Brancaleone e do
Venice não foram encontrados, e
a gerência do Enfarta Madalena
não se posicionou.
Entre os valets, ao menos 6 dos
11 deixam ou já deixaram os veículos nas ruas, conforme admitem os próprios donos ou segundo a Folha conseguiu identificar.
São eles: Wal Park, Prudente Vallet Parking, Art Park Valet Service, Villa's Park, San Park e Estacionamento da Tia. Mas não significa que os demais deixam os
carros em lugares fechados, já que
dois deles não deram entrevistas
-Cia Valet e ELN Valet Park, que
está registrado em Barueri, na
Grande SP- e dois não foram localizados -os antigos valets do
Venice e do Bom Motivo.
Valets
Valdeci Mata da Silva, dono do
Wal Park, diz ter convênio com
dois estacionamentos, mas que as
vagas reservadas não dão conta.
"A gente põe na rua quando lota.
Você não pode dizer ao cliente
que não vai atender. O serviço que
fala que não põe na rua está mentindo", afirma Silva, que considera seu trabalho "arriscado" por
não ter seguro de percurso -que
cobriria a distância do bar ao lugar onde são deixados os carros.
Segundo ele, a experiência mais
grave enfrentada pela empresa foi
quando um manobrista capotou
um Palio. A Wal Park diz que pagou R$ 10 mil ao cliente.
A Villa's Park está sendo processada por um cliente que teve
seu BMW blindado batido por
um manobrista. O conserto de R$
3.500 foi pago, mas ele alega que a
blindagem não voltará ao normal.
Segundo Luís Cláudio Medeiros, dono do valet, 90% dos veículos são deixados em estacionamentos. O restante é colocado na
rua Aspicuelta, onde eles pagam
R$ 1,20 por carro para um guardador. Medeiros diz que não tem
seguro de percurso porque a Real
não quis fazer a apólice. Ele afirma que teria condições de bancar
do próprio bolso um roubo ou
uma batida "dependendo do valor do carro".
José Luiz Albuquerque de Castro, proprietário do Prudente Vallet Parking, afirma que não deixa
na rua "nem 20%" dos veículos
que manobra. "Eu não preciso de
seguro de percurso porque a
maioria das nossas garagens fica
perto do bar. Quando os carros
são muito caros, a gente pede para
eles levarem a chave."
No primeiro semestre, a Folha
chegou a flagrar veículos manobrados pelo San Park e estacionados na rua. O dono do valet, Antonio Márcio Medeiros, diz ter feito
convênio com estacionamentos
de lá para cá e afirma ter seguro
-embora não tenha nem nota
fiscal para fornecer aos clientes.
O dono do Art Park Valet Service, Jaime Machado, disse que deixava os veículos em um estacionamento da Equipark, na rua Simão Álvares. O dono da garagem,
José Ribamar de Oliveira, porém,
afirmou que "eles têm só dez vagas reservadas".
Confrontado com a posição da
Equipark, Machado reconheceu
só ter as dez vagas garantidas, mas
disse que tenta "alugar espaços de
emergência" na frente de alguma
casa protegida por correntes.
Hector William Gomes, responsável pelo Grill da Vila, diz ter seguro e convênio com um estacionamento da rua Simão Álvares e
que reserva 16 vagas de garagem
na frente de casas e lojas vizinhas
para atender a demanda.(AI)
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