|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Tratamento com ondas de alta energia evita cirurgia em vítimas de tendinites, calcificações e outras lesões
Choque trata doença ortopédica crônica
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante dois anos, a empresária
Lídia Lui, 67, sofreu com um esporão no calcanhar, que a impedia de caminhar, de dançar e, no
fim, até de se levantar da cama e
apoiar o pé no chão.
Em razão do problema, ela consultou vários médicos, tomou incontáveis antiinflamatórios e fez
outras tantas aplicações de corticóide. Em fevereiro deste ano, Lídia foi submetida a um tratamento com ondas de choque, que durou cinco minutos.
"Dois dias depois, eu estava em
um baile, dançando a noite toda
com um salto de sete centímetros", afirma a empresária.
O tratamento "milagroso" é a
nova arma que ortopedistas estão
usando para tratar pacientes vítimas de tendinites, calcificações
no ombro e dores crônicas no calcanhar e no joelho, entre outras
lesões ortopédicas, sem a necessidade de cirurgia.
Estima-se que 70% dos pacientes que recorrem a consultórios
de ortopedia se queixam de problemas desse tipo.
Chamado de ortotripsia, o tratamento consiste na emissão de
ondas de alta energia no local lesionado. É muito semelhante à
técnica utilizada pelos urologistas
para dissolver pedras nos rins.
As ondas de energia passam
através dos tecidos moles e, no local inflamado, dissipam-se e estimulam o tecido a liberar substâncias antiinflamatórias, regenerando-o e ativando os mecanismos
de defesa do corpo.
Segundo médicos que estão utilizando o tratamento, de cada
quatro pacientes de casos crônicos, que, teoricamente, só teriam
chances de cura por meio de uma
cirurgia, três conseguem resolver
o problema com a terapia.
São necessárias de uma a três
sessões, com duração de cinco a
15 minutos, dependendo do tipo
de aparelho usado.
"A irradiação funciona como
estímulo para que o organismo da
pessoa reaja e vascularize o local
lesionado", afirma a fisiatra Marta
Imamura, 39, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No primeiro semestre deste
ano, ela tratou 14 pacientes com
fasciite plantar, uma inflamação
na faixa que reveste o músculo da
sola do pé, conhecida também
por esporão calcâneo.
O aparelho foi cedido temporariamente por um dos fabricantes
para que a equipe do HC conhecesse o tratamento. "Fiquei surpresa com os resultados. Esses pacientes já tinham feito todo tipo
de tratamento e, mesmo assim, a
dor persistia", afirma Marta.
Nesses casos, segundo ela, a opção convencional seria operar a
região tentando retirar a parte
afetada pela infecção.
Problemas crônicos
Marta acredita que a terapia,
atualmente só utilizada em casos
crônicos, tende a ser usada como
a primeira opção na maioria dos
problemas ortopédicos.
"A fisioterapia é muito demorada. Leva de três a seis meses e nem
sempre traz bons resultados. Para
pessoas que têm pressa em resolver o problema, como os esportistas e outros profissionais, a recuperação rápida é fundamental."
Por enquanto, o aparelho que
emite as ondas de choque, que
custa entre US$ 80 e US$ 150 mil,
não está disponível na rede pública de saúde. Nas clínicas particulares, o preço do tratamento varia
de R$ 650 a R$ 850.
O tratamento não exige internação. Dependendo do tipo de aparelho, é necessária a aplicação de
uma anestesia local para evitar
que o paciente sinta dor.
Segundo o cirurgião artroscopista Paulo Rockett, 48, de Porto
Alegre (RS), que já tratou 200 pessoas com o novo método, o local
irradiado pode ficar temporariamente avermelhado ou arroxeado. Não há relatos de outros efeitos colaterais.
Ele afirma que 90% dos seus pacientes, que já haviam sido tratados sem sucesso com antiinflamatórios e infiltrações de corticóides, apresentaram melhora
imediata com o tratamento.
A ortopedista carioca Ana Cláudia Souza, 37, diz que apenas dois
de 33 pacientes tratados tiveram
de fazer uma reaplicação das ondas de choque. O restante se livrou das dores com apenas uma
sessão. Segundo ela, além de rápido, o tratamento acaba sendo
mais barato do que uma cirurgia
ortopédica convencional.
Texto Anterior: País ainda não sabe qual modelo seguir Próximo Texto: Mudar hábitos pode evitar que lesão reapareça Índice
|