São Paulo, domingo, 14 de março de 2004 |
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Unidade Jardim Grimaldi atende a uma população de 60 mil pessoas, quando deveria atender 20 mil Paciente espera 5 h para marcar consulta
DA REPORTAGEM LOCAL Logo na entrada da Unidade Básica de Saúde Jardim Grimaldi, na zona leste de São Paulo, a placa avisa: "Esta é a sua porta de entrada para o novo sistema de saúde de São Paulo. Use-a". A mensagem é antiga, da década de 80, mas às sextas-feiras, a cada 15 dias, é posta à prova: é dia de marcar consulta. Tereza Bento de Moura, 64, que na última quinta-feira já esperava havia duas horas pelo atendimento marcado, explica como funciona: é preciso chegar antes das 6h, pois no dia de marcar consulta centenas de pessoas alinham-se numa fila que vai da praça ao lado da unidade até a porta do posto. Para conseguir sua consulta, Moura ficou cinco horas na fila, relata. Em dia de médico, ela, que tem problemas de tireóide, deixa o almoço do marido e da filha pronto e sai sem hora para voltar. Ao lado de Moura, esperava ser chamada para a consulta Joventina Lino da Cruz Carvalho, 69, dores no joelho e dois pedidos de ultra-som na mão, um deles datado de setembro. "Ligo no hospital e não tem vaga." Carvalho também costuma percorrer os postos da região em busca de remédio contra pressão alta para o marido -algo que deveria estar disponível na rede básica. O posto do Jardim Grimaldi é um dos que têm a maior população vinculada em todo o município -mais de 60 mil pessoas. O padrão utilizado pela Secretaria Municipal da Saúde é de uma unidade para 20 mil pessoas; 52,8% da área do distrito em que está o posto, o de Sapopemba, está sob os cuidados do Grimaldi. Há dez médicos, e o diretor, Carlos Alberto Gomes da Costa, 47, estima que seriam necessários 16. O posto é uma das unidades que foram municipalizadas pela prefeitura a partir de 2001, quando ela assumiu a rede básica do Estado. Anos sem manutenção deixaram o forro do teto semelhante ao de uma casa de barro. Logo na entrada, duas goteiras incomodam muito, afirma Costa. O diretor explica fazer o possível para driblar os anos de descaso com a atenção básica. A marcação de consultas a cada 15 dias foi uma maneira de evitar que os prazos para o atendimento fossem tão longos que o paciente esquecesse a consulta -como acontecia quando era permitido marcar em qualquer dia. Agora, agenda-se na sexta e o atendimento, para quem consegue, ocorre em até duas semanas. Em um canto do posto, foi instalada uma espécie de colchão, e são disponibilizados brinquedos e atividades para tornar a espera das crianças mais amena. Segundo Costa, foram montados ainda grupos de orientação para pacientes para que entendam melhor quando o posto é necessário. Abrigo Em Heliópolis, na zona sul, onde médicos e enfermeiras da prefeitura são vinculados a um posto virtual -um pequeno casebre-, um centro espírita, a Casa de Nazaré, cedeu espaço para abrigar os grupos grandes de pacientes para atendimento, como o da terapia comunitária -uma abordagem psicológica em grupo. Ali também são oferecidas consultas de acupuntura e homeopatia, todas de graça, por voluntários que tentam ajudar a dar conta da demanda reprimida -eles nada têm a ver com a prefeitura. Em outros dias de grande demanda, igrejas evangélicas e católicas cedem o espaço. "Em retorno a isso, o que vem? O nosso bazar é tão pobrinho. Talvez a prefeitura pudesse fazer uma doação", diz Helena Abissamara, 76, dona da casa onde funciona o centro espírita. Texto Anterior: Atendimento básico: Posto de saúde "virtual" dribla déficit em SP Próximo Texto: Parceiros se queixam de falta de diretriz Índice |
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