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AMBIENTE
Erosão avança na região
Risco de desertificação ameaça Alto Araguaia
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
O uso inadequado do solo já
atinge mais de 70% das terras na
região da bacia sul do Alto Araguaia, no Centro-Oeste. Graças à
exploração indiscriminada da
área, sobretudo pela agropecuária, as grandes erosões estão se
tornando comuns e colocando
em risco a cobertura de cerrado.
Um estudo inédito coordenado
pelo Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da UFG (Universidade Federal de Goiás), já identificou 102 focos de erosão -alguns
de alta complexidade, com até
1.300 m2- nos 1.516,73 km2 que
cobrem os municípios de Mineiros e Santa Rita do Araguaia
(GO), Taquari e Baús (MT).
Desenvolvido em parceria com
a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a UFMT
(Universidade Federal de Mato
Grosso), a pesquisa "Diagnóstico,
Prognóstico e Controle de Erosões Lineares nos Estados de Mato Grosso e Goiás" aponta para a
ameaça de arenização do solo.
Para a coordenadora-geral do
projeto e professora da UFG, Selma Simões de Castro, as rochas
areníticas que compõem a região
são mais propensas que outros tipos de solo à transformação em
grandes bancos de areia e voçorocas, estéreis para a agricultura e o
reflorestamento.
"O processo natural de erosão
tem sido acelerado e ampliado
pela intervenção do homem. Por
serem áreas de declive, as águas
das chuvas e enxurradas formam
sulcos nas partes planas inferiores, especialmente nas cabeceiras
do rio Araguaia. A agricultura, a
pastagem e a devastação das matas ciliares intensificam essas
ocorrências", disse Selma.
Vazão
Em algumas nascentes e rios diretamente ligados ao Araguaia, a
vazão da água está prejudicada ou
bloqueada, formando areiões. A
falta de drenagem também dá origem a novos vales.
Segundo a coordenadora, "a
[sub-bacia" Chitolina já apresenta
erosões de mais ou menos 300
m2, com ramificações. O represamento das águas do Araguaia afogou a vegetação ciliar, diminuindo a vazão do rio".
A erosão também fez com que
as águas do rio Madeira, que alimentam a bacia do Araguaia, invadissem e destruíssem as fazendas ao seu redor. O monitoramento feito pelo projeto detectou
que o solo está oco e as ramificações já atingem 200 m2 de extensão. Em 97, não atingiam 10 m2.
Para Selma, os efeitos se tornarão cada vez mais devastadores
sem a implementação de políticas
de desenvolvimento sustentável.
O cerrado, que ocupava praticamente toda a extensão pesquisada, corresponde hoje a 34,11% da
área -17,72% de cobertura densa e 16,39%, rala. Em 41,56% das
terras há alta discrepância entre o
uso efetivo e o potencial do solo.
"É preciso criar uma consciência de que algumas áreas podem
ser usadas para agricultura e pecuária, desde que os limites do solo sejam respeitados. Em outros
casos, devem ser preservadas."
"A destruição da vegetação potencializa o impacto da água. Em
alguns pontos, não há mais como
corrigir os efeitos. A situação é
crítica na bacia do Taquari e Alto
Araguaia", afirmou o diretor do
Instituto de Geociências da Unicamp e colaborador da pesquisa,
Archimedes Perez.
Na sub-bacia de Ribeirão do Sapo, caracterizada pelo alto cultivo
de soja, as primeiras ações corretivas só tiveram início após a assinatura de um termo de responsabilidade proposto pelo Ministério
Público aos produtores locais.
O estudo conclui que quatro
pontos foram determinantes para
a aceleração da destruição do cerrado, segundo maior bioma do
país, atrás apenas da Mata Atlântica: desmatamento, uso excessivo do potencial do solo, desrespeito às leis ambientais e falta de
orientação e fiscalização no manejo da terra.
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