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SAÚDE
Droga para câncer ajuda a tratar acne
Dermatologistas receitam bloqueador de hormônio para mulheres com problemas relacionados à testosterona
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
A flutamida, remédio com indicação formal para tratamento do
câncer de próstata, está sendo utilizada por dermatologistas para
tratar, em mulheres, casos específicos de acne, de excesso de pêlos
e queda de cabelo.
Embora o registro do medicamento no Ministério da Saúde
-feito em 11 de novembro de
1991- não preveja a sua utilização nesses quadros, a flutamida é
apontada pelos médicos como
uma droga eficaz, se utilizada corretamente.
Calvície feminina, hirsutismo
(excesso indesejado de pêlos em
partes do corpo em que eles normalmente não existem) e certos
tipos de acne têm relação com a
testosterona, hormônio masculino que também é produzido no
organismo da mulher.
Quando há uma produção excessiva de testosterona ou quando
os receptores específicos desse
hormônio são hipersensíveis, a
mulher pode sofrer o que os médicos chamam de virilização. Em
casos mais graves, pode ocorrer o
aparecimento de barba cerrada
ou mesmo aumento do clitóris.
Esses problemas diminuem
com o uso da flutamida. Isso porque o remédio bloqueia a ação da
testosterona, impedindo a ligação
do hormônio com seus receptores, que estão diluídos no citoplasma das células do corpo.
Na acne, a indicação é para casos que não respondem a outros
tratamentos, sobretudo a chamada acne da mulher adulta, que
aparece geralmente por volta dos
30 anos e costuma piorar no período da menstruação.
"Já tinha ouvido de muitos médicos que não havia solução. Mas
tive uma melhora de pele, de auto-estima, de tudo. Perguntaram
até se eu tinha feito plástica", conta Maria do Carmo Altieri de Oliveira, 39, que fez o tratamento para acne e ainda toma pequenas
doses do remédio.
Além de identificar a dose correta para cada paciente, são necessários cuidados especiais na
utilização do medicamento. O
primeiro é o acompanhamento
da função do fígado, através de
exames periódicos. Entre os efeitos colaterais relatados estão
complicações relacionadas a esse
órgão, como hepatite (inflamação), insuficiência (incapacidade
de cumprir a função habitual) e
necrose (morte dos tecidos).
Outro cuidado se refere à gravidez. "O remédio pode inibir a diferenciação do sexo do bebê, induzir um aborto ou causar má-formação do feto", diz o médico
Marcelo Gennari, do departamento de ginecologia da USP.
A flutamida não deve ser utilizada por homens (a não ser nos casos de câncer de próstata). Pequenas doses já seriam capazes de
causar alterações graves.
Um terceiro ponto que deve ser
observado é se a libido da paciente diminui. Na mulher, a testosterona está relacionada à manutenção da formação de proteínas
(massa muscular) e também tem
ação no desejo sexual.
"A mulher às vezes não nota a
alteração da libido tanto quanto o
homem, ou não relaciona com o
remédio, pensando que há outras
causas, como estresse. O médico
tem obrigação de perguntar sobre
isso", declara a dermatologista
Denise Steiner.
Para o professor de dermatologia da UFRJ Celso Tavares Sodré,
com o acompanhamento adequado, a droga é segura. "É um remédio polêmico, mas que tem resultados muito bons."
Segundo o Cebrim (Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos), que é ligado ao Conselho Federal de Farmácia, os estudos que se referem ao uso da flutamida não apresentam resultados suficientemente consistentes
para recomendar a aplicação dermatológica. Para o órgão, são necessários estudos mais amplos.
Entre os países em que o remédio está registrado estão EUA,
França, Itália, Bélgica, Canadá,
Turquia, Argentina e Suécia -só
para o câncer de próstata.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de
junho de 2001 a maio de 2002, foram vendidas no país 46 mil unidades -com 21 comprimidos de
250 mg cada uma- do genérico
Flutamida, que custa R$ 46,41.
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