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AMBIENTE
É o tempo que leva o processo inflamatório que aumenta em 20% os casos respiratórios infantis, diz estudo do HC
Poluição se reflete nas crianças em 5 dias
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro ou cinco dias depois
que medições alertam para um
aumento da poluição, o número
de crianças com "doenças do trato respiratório baixo" atendidas
no Hospital das Clínicas aumenta
em 20%. No "trato baixo" estão
doenças como asma, bronquite,
bronquiolite e pneumonia.
O espaço entre o registro das estações medidoras e a procura pelo
Instituto da Criança do HC é o
tempo médio do processo inflamatório provocado pela poluição.
No pronto-socorro do instituto
são atendidas em média 4.200
crianças nos meses do verão. No
inverno e no outono, saltam para
mais de 5.500. No ano passado, o
mês de julho bateu o recorde com
6.142. O aumento, segundo os
médicos, se deve aos problemas
respiratórios que nesses períodos
do ano atacam mais as crianças.
A pesquisa que chegou a um aumento de 20% nas doenças respiratórias do trato baixo -e sua
ocorrência cinco dias depois-
foi feita ao longo de dois anos por
Sylvia Costa Lima Farhat, médica
assistente do PS do Instituto da
Criança e integrante do Laboratório de Poluição da USP.
Na sua pesquisa de doutorado, a
médica constatou que os cinco
gases mais comuns na cidade de
São Paulo tinham "culpa" igual
nas doenças das crianças. São o
material particulado, dióxido de
nitrogênio (NO2), monóxido de
carbono, dióxido de enxofre e gás
ozônio, todos gerados pela queima de combustível pelos veículos.
O último é uma transformação do
NO2 ocorrida pela luz solar.
Na ensolarada tarde da sexta-feira, cerca de 20 crianças aguardavam atendimento no PS do Instituto da Criança com problemas
respiratórios.
Os médicos não tinham meios
de dizer se o responsável era a poluição, agentes alérgicos, ou uma
combinação dos dois. Por exemplo, uma criança alérgica poderá
ter uma crise de asma desencadeada pela poluição, exemplifica
Sylvia Farhat.
O parque ou o trânsito
São Paulo está próxima de uma
situação paradoxal: o parque Ibirapuera, associado a práticas de
esporte, saúde e lazer, está batendo o recorde nos níveis de ozônio
por conta das grandes avenidas
laterais. "Uma hora teremos que
fechar o trânsito para não fechar o
parque", diz a pneumologista Sonia Cendon.
A médica faz parte de um grupo
da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) que está montando um ambulatório que permite
estudar a relação de cada poluente com as diferentes doenças.
Há muitos estudos expondo o
papel da poluição no aumento de
doenças e da mortalidade e a sua
interferência na hipertensão, nas
arritmias cardíacas e no processo
de infarto, além das sinusites,
bronquites e pneumonias.
"As principais vítimas são as
crianças e os idosos", diz a pneumologista Sonia Cendon.
"É necessário estudar nossa cidade de forma que possamos nos
defender. Os carros estão com
melhor qualidade, mas há cada
vez mais carros." Para médica, é
importante saber quando um poluente está fugindo ao controle e
provocando maior dano à saúde.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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