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Psicanalista vê um novo tipo de luxo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nada mais ridículo do que, nas
classes executivas das companhias aéreas brasileiras, 90% das
mulheres usarem a mesma marca
de bolsa, comprada na rua Oscar
Freire ou na 25 de Março." A frase
provocadora é do psicanalista
Jorge Forbes, 53, defensor da idéia
de que um novo tipo de luxo está
surgindo, em oposição à empáfia
do luxo arcaico.
Segundo Forbes, as donas das
tais bolsas da classe executiva são
exibicionistas. Tentam, pela ostentação da marca da grife européia centenária, apropriar-se de
uma tradição que não lhes pertence. "Elas imaginam que a bolsa
empreste-lhes distinção", diz o
psicanalista. "Não empresta."
No espaço do "novo luxo", menos engessado por convenções,
uma gravata Dolce&Gabbana
convive pacificamente com um
blazer comprado num brechó. A
camiseta Hering orna perfeitamente com o acessório Fendi. Em
vez de normas rígidas, de um "pode/não pode" opressivo, o "novo
luxo" cobra apenas informação,
referências, citações.
Forbes torna-se, dessa forma,
uma espécie de apóstolo brazuca
do "novo luxo" que começa a se
instalar no país, porque legitima
as compras caríssimas de artigos,
desde que essas compras respondam ao desejo de quem compra
(ou no máximo ao de sua tribo) e
não à vontade de mimetizar os
hábitos fossilizados de uma nobreza já desacreditada.
O psicanalista lembra que o exibicionismo do luxo é tanto mais
forte quanto mais uma sociedade
cultue o futuro, em detrimento do
passado. "Sem história, os conquistadores tentam se apropriar
de símbolos que os legitimem na
hieraquia social."
Isso explica os carrões americanos nos anos 50 com capotas rígidas imitando as coberturas conversíveis das carruagens, ou as filas de consumidores orientais nas
portas das butiques de Milão ou
Paris, ou ainda o exibicionismo
das chamadas "peruas emergentes" brasileiras, tão em evidência
nos anos 90, as cadelas de estimação com coleiras cravejadas de
diamantes.
"Luxo", palavra cuja etimologia
remonta a "luz", já foi sinônimo
de oferendas a divindades. Tornou-se, depois, símbolo de distinção social. Agora, é expressão do
prazer individual, singular, de tudo o que está além da satisfação
das necessidades básicas.
Fenômenos cult como o dos
jeans Mavi, sucesso de venda nos
Estados Unidos são a exaltação
desse conceito. Dentro dos bolso
das calças, as pessoas colocam
cartas de amor verdadeiras, a que
o comprador responderá -esse é
o pacto. Transformada em envelope de uma carta romântica, cada calça adquire uma singularidade. O cliente deseja receber esse
carinho e correspondê-lo. A compra expressa e satisfaz esse desejo.
Quer mais modernidade?
(LC)
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