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Hoje poluído, lago já serviu para nadar
DA REPORTAGEM LOCAL
Andando pelo parque da Aclimação para mostrar à Folha os
problemas do lago, o diretor de
manutenção dos parques no Depave, José Roberto Brandão, 54,
tem um súbito ataque de nostalgia. "Eu já nadei aqui...", diz.
Diante do espanto de todos
-afinal a água é suja, em alguns
locais apresenta uma nata verde
na superfície e exala um cheiro
forte-, ele conta a história.
"Estudava aqui do lado e costumava cabular aula para vir com
amigos ao parque. Pegávamos
um barquinho a remo e íamos até
o centro do lago. Lá mergulhávamos. O segurança fica louco da vida", lembra rindo. Isso foi em 62.
Uma década antes, nos anos 50,
quando ainda eram namorados,
Francisco e Ana Volpe já freqüentavam o Aclimação. Iam lá para
namorar, e o lago era limpo.
"O parque sempre foi uma delícia. É maravilhoso, um dos melhores da cidade", diz Ana, 66.
"Mas naquela época não tinha
mau cheiro, nem problemas de
poluição da água", completa.
Hoje a situação é diferente.
"Quando cheguei, já senti um
cheiro ruim", diz a nora do casal,
Suzana Volpe, 30. "Não é sempre.
Acho que piora se está mais quente", emenda Francisco, 75. A pequena Giulia Volpe, 2, neta de
Francisco e Ana e filha de Suzana,
é a terceira geração de fãs do Aclimação na família e a única que parece não ter do que reclamar.
"Apesar de o lago não ser limpo,
ainda prefiro vir aqui do que ir ao
Ibirapuera. Lá a poluição é pior.
Às vezes forma uma camada verde sobre a água", diz Suzana, que
mora nos Jardins (zona sul).
"Em certos dias, o mau cheiro
incomoda e há realmente muita
sujeira na beira do lago. É ruim
até de olhar, então desisto de ficar
perto. Mas, quando está melhor,
como hoje, gosto de passear pela
borda", conta a dona-de-casa Maria Amélia Carvalho Vaz, 75.
Quinta-feira passada, ela "passeava" pela margem do segundo
lago do Ibirapuera numa cadeira
de rodas, empurrada por um enfermeiro. Não se sentia nenhum
odor, mas as bolhas saindo do
meio da água denunciavam a atividade quase silenciosa de degradação do esgoto que chega ao lago. "Não são peixes, como muita
gente pensa, é metano [gás gerado
pela decomposição da matéria orgânica]", explicou o engenheiro
Luiz Fernando Orsini Yazaki.
No outro extremo da cidade, na
zona norte, alheio ao esgoto que
polui o lago do parque Cidade de
Toronto, o ex-jogador de futebol
Jorge Luís, o Jorginho, 39, que
atuou no Santos e no Palmeiras,
entre outros, aproveitava o dia
com o sobrinho Nicolas, 2.
Ele conta que corre quase todo
dia em volta do lago e, apesar de
nunca ter sentido mau cheiro, sabe que a água é poluída, tem muitas algas e às vezes lixo. "As pessoas não se preocupam em cuidar
de nada. Seria muito melhor se
fosse mais limpo." (MV)
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