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Ex-diretor é contra o fim da Casa de Detenção
ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"
Luiz Camargo Wolfmann, 71, o
Luizão, fez do boxe um dos métodos mais produtivos para conseguir administrar a Casa de Detenção, entre os anos de 1980 e 1986.
"Era na troca de porrada, em cima do ringue, que eu conseguia
amansar muito preso que me causava problema dentro da Detenção", explica Luizão, que trabalhou 40 anos no sistema prisional
do Estado. "Quando eu morrer,
não vai ter jeito, vão noticiar assim: "Morreu o Luizão da Detenção, que trocava socos com os
bandidos no ringue". Ali eu sabia
de muita coisa, desde quem passava drogas até quem planejava
fugas", relata o ex-diretor.
Um dos presos treinados por
Luizão, Manoel Borges dos Santos, do pavilhão 9, chegou a conquistar o título brasileiro de boxe
de meio-pesado, na década de 80.
Após cumprir dois anos e meio
de pena e ser libertado, Santos
voltou depois de um ano à Detenção e disse a Luizão que queria ser
preso novamente. "Tudo porque
ele tinha mentido sobre seu nome
verdadeiro, que era Rui Barbosa
Bonfim, e tinha mais 16 anos para
cumprir", contou o ex-diretor.
Foi por causa de sua condição
de boxer, inclusive, que Luizão lutou com alguns dos 12 presos que
se rebelaram em março de 1982.
"Dei uma cabeçada no preso que
liderava o motim, tomei o revólver dele e consegui subir no alto
do pavilhão 2 para salvar as pessoas que foram feitas reféns."
No final, dois funcionários foram mortos pelos 12 rebelados. A
PM, por sua vez, invadiu o pavilhão e matou oito amotinados.
O ex-diretor-também advogado-é considerado um especialista em assuntos prisionais e afirma ser desfavorável, neste momento, ao fim do Carandiru.
"Não é momento de desativar
ainda. Acho que o governo poderia escolher uma cidade aqui da
Grande São Paulo e criar um
complexo grande também e dar
toda a infra-estrutura para que ele
fosse de segurança máxima. Não
dá para mandar essa gente toda
para o interior. Preso que não recebe visita é difícil de controlar."
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