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Quem não entra no clima se sente "excluído"
DA REPORTAGEM LOCAL
Existem aqueles que discordam, os que não querem participar desse clima de alegria generalizada de Natal e Ano Novo, e esses são segregados.
Pelo menos é o que afirma o arquiteto Rick Levy, 29, que não
gosta nem um pouco das festas de
final de ano.
"Ninguém conversa se você não
está feliz o tempo todo. No Réveillon, por exemplo, se você não se
integra, será excluído. As pessoas
não acreditam e perguntam:
"Quem é esse mala que não pula
ondinha nem usa roupa branca?'"
Para Levy, trata-se de uma
"pressão hipócrita", patrocinada
sobretudo pela mídia, que praticamente "obriga" as pessoas a comemorar. "Se eu quero dar
um presente para alguém, isso vai
acontecer independentemente de
ser ou não Natal. Por que eu vou
ter que dar uma "caixinha" para o
ascensorista agora? Dou, se quiser, no aniversário dele."
Sobre o Réveillon, Levy considera um absurdo todo o investimento que é feito para que, "depois de uma única noite de glamour, tudo se acabar e você ter de
pegar um trânsito desgraçado para voltar para casa". Para ele, os
desejos que as pessoas têm em relação ao novo ano não precisam
ser manifestados exatamente na
virada. "É uma bobagem."
Gabriela Sampaio, 25, é jornalista, trabalha num site da internet e
odeia, entre outras, duas coisas: o
especial de Roberto Carlos e a
transmissão da Missa do Galo pela TV. "Deprimente", diz ela.
"Na hora da missa ninguém pode falar nada. E a gente ainda tem
que ficar aguentando o Roberto
Carlos horas e horas na televisão."
"As pessoas perderam a noção
do que realmente significa o Natal, tudo acabou virando um desespero de consumo nojento."
Mesmo aqueles que, como ela,
não vêem o Natal dessa maneira,
diz Gabriela, são obrigados a "entrar na onda": "A gente acaba tendo que comprar algum presente,
porque se não fizer isso tem pessoas que ficam ofendidas".
Gabriela é mais crítica ainda
com relação às comemorações
em família: "As pessoas acabam
brigando, reclamam da comida,
ficam uns falando mal dos outros
pelas costas, uma loucura."
Biba Fonseca, 42, "promoter"
de uma casa noturna de São Paulo, diz que sempre se deprime no
fim do ano. "O Natal até que é
mais bacana, tenho um monte de
sobrinhos e eles adoram. Mesmo
assim, eu, que sou solteira, tenho
que me adaptar aos planos dos irmãos casados e da mãezinha."
"Sobre o Ano Novo", diz ela,
"não entendo por que existe esta
obrigação de comemorar a mudança de mês. Afinal, todo mês
acaba e outro começa".
Outra coisa que irrita Biba é
"aquela obrigação de ser bacana.
Por que as pessoas se lembram de
ser bacanas umas com as outras
só nesta época? Não dá para fazer
isso no resto do ano?"
Depois que tudo passa, diz ela, o
que resta é uma sensação de que
tudo foi meio uma farsa que não
serviu para nada. "Bem, pelo menos aí vêm as férias."
(LC)
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