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Rota de entrada evita fronteira vigiada
DA REPORTAGEM LOCAL
A boliviana Maria das Mercês
(nome fictício) e um filho pequeno fizeram na semana passada a
rota clandestina que milhares de
conterrâneos seus, peruanos e paraguaios já fizeram. Por US$ 70,
eles foram levados de ônibus até
um pequeno hotel nas imediações
de Assunção, no Paraguai. Os
"passadores" de clandestinos evitam a fronteira Bolívia-Corumbá
por ser muito controlada.
"Ninguém pode sair do hotel ou
fazer perguntas", ela diz. No dia
seguinte, de madrugada, depois
de pagar US$ 100, um outro ônibus conduz o grupo até um pequeno hotel em Ciudad del Este.
Durante a noite, um terceiro
ônibus vai levá-los pela Ponte da
Amizade, até outro pequeno hotel
em Foz do Iguaçu. Finalmente,
um quarto ônibus vai deixá-los
em algum ponto de São Paulo.
"Em nenhum lugar nos pediram
documentos", diz Mercês.
A Pastoral do Migrante estima
que até 20 ônibus por mês cheguem a São Paulo trazendo imigrantes latino-americanos que
entram clandestinamente. O chileno Juan Arturo Plaza, que dirige
a Casa do Imigrante, diz que recebe dezenas de latinos por mês.
Mercês confirma relatos ouvidos por Plaza da boca de muitos
imigrantes. Nas regiões altas e
mais pobres do Peru e da Bolívia,
rádios e jornais locais anunciam
viagem grátis ao Brasil, com trabalho garantido, US$ 200 por
mês, sem custos de passagem
nem exigência de papéis. Os
anúncios e o transporte são bancados por donos de oficinas de
costura de São Paulo.
"Aqui, eles não pagam nem deixam sair por seis meses", diz Mercês, que viveu essa situação um
ano atrás, em sua primeira vinda
ao Brasil.
Parte dos imigrantes fica aqui
por dois anos, volta para suas terras e retorna ao Brasil anos depois, quando o dinheiro acaba.
Muitos fazem de tudo para ficar
e, uma vez com a situação regularizada, vão trazendo os parentes.
Foi assim com o paraguaio Leonardo, 32, que veio há dez anos
em busca de um transplante de
rim. Só conseguiu entrar na "fila"
de órgãos quando seu filho nasceu e os papéis foram regularizados. Hoje, ele e a mulher, Aurelia,
comandam uma oficina onde
uma irmã, duas sobrinhas e um
sobrinho -todos ainda ilegais-
costuram peças para os coreanos.
"Não quero sair mais daqui",
diz Julio, 23, que entrou no país há
menos de um ano. Adela, 22, irmã
de Leonardo, chegou há um mês
com um cisto na mama e aguarda
na fila dos exames da Santa Casa.
No mesmo bairro do Brás, a paraguaia Olga, o marido e mais cinco irmãos moram na casa-oficina
onde máquinas de costura dividem o espaço com beliches.
Nas cerca de 18 mil oficinas de
costura da Grande São Paulo, a
prática e o cenário são semelhantes. Os latino-americanos recebem as peças cortadas, trabalham
e vivem em grupos familiares e
costuram durante quantas horas
aguentarem.
(AB)
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