São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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Detecção de distúrbio exige treinamento de médicos

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde pretende, a partir da validação de indicadores clínicos de risco, treinar não só os pediatras, mas todos os médicos generalistas da rede básica de saúde para a detecção precoce de problemas psíquicos em bebês.
A informação é de Alexia Luciana Ferreira, coordenadora da área técnica da saúde da criança e aleitamento materno do ministério.
Segundo ela, um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra uma prevalência de 12% a 29% de transtornos mentais na infância. Desses casos, menos de um quarto chega a ser detectado pelos serviços de saúde.
"Queremos que haja uma vinculação da criança ao profissional de saúde o mais cedo possível. E que esse profissional seja capaz não só de cuidar das questões orgânicas, mas de poder identificar como está a relação mãe e filho."
Segundo o psicanalista Alfredo Jerusalinsky, há quatro eixos de análise sobre os quais a pesquisa de indicadores clínicos se apóia:
1) Suposição do sujeito. No momento em que a criança ainda não é capaz de se sustentar na posição subjetiva, é necessário que os pais atribuam intencionalidade a seus gestos, movimentos e expressões. Isso vai capacitar a criança a interiorizar esse sujeito, inicialmente externo a ela, mas do qual ela precisará se apropriar. Mas é necessário que esse sujeito seja inicialmente suposto.
2) Alternância da presença e ausência. É necessário que a criança viva a experiência da presença e ausência dos objetos e pessoas que significam a sua satisfação. Só desse modo, experimentando a falta dessa pessoa ou objeto, é que ela se estruturará como desejante.
3) Estabelecimento da demanda. Considerado ponto decisivo no desenvolvimento. Os pais devem saber interpretar as solicitações da criança por meio de seus atos. Assim, ela será encorajada a pedir o que precisa e terá a tranqüilidade de que será atendida.
4) Função paterna. As mães não devem atuar em nome puramente próprio. A criança tem necessidade de uma série de referências sociais, como a alternância entre o dia e a noite, o dormir e a vigília, o ordenamento dos momentos de divertimento, de cumprimentos das necessidades, de descoberta ou de descanso.
Jerusalinsky diz que essas funções não vêm previstas no sistema nervoso central. Precisam ser inscritas por uma matriz simbólica, que os pais precisam transmitir ao filho. "Isso se dá através de ações banais, como alimentação, higiene, jogos e brincadeiras, mas são fundamentais para o bebê."
Essas funções que se inscrevem muito cedo, desde o primeiro ano de vida, e vão constituir a matriz que orientará de um modo genérico o sistema de relação com o mundo e as pessoas.


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