São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONGRESSO NACIONAL

Quatro e-mails revelam como os centros universitários retiraram da pauta um projeto indesejado

Mensagens desvendam lobby da educação

ANDRÉA MICHAEL
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quatro e-mails enviados de 22 a 30 de julho pelo diretor-executivo da Anaceu (Associação Nacional dos Centros Universitários), Paulo da Rocha Teixeira, a reitores e donos de centros revelam como funciona o lobby do setor no Congresso Nacional.
O lobby dos centros universitários -considerados a "mina de ouro" do ensino superior por terem crescido 92% entre 97 e 2003- operou com eficiência na semana da troca de e-mails: conseguiu retirar da pauta da convocação extraordinária da Câmara o decreto legislativo 383/2003, de Gilmar Machado (PT-MG). A matéria havia seguido para o plenário com o aval do Planalto.
Se for aprovado, o decreto vai tirar dos centros o direito de emitir diplomas e de criar novos cursos sem autorização do governo.
Dos sete deputados classificados por Teixeira nos e-mails como "base de apoio", quatro são proprietários de centros ou receberam doações de campanha dessas empresas. Há ainda um suplente de senador, cuja família é proprietária de uma dessas instituições, que atua com o grupo.
A atuação dos deputados lobistas, segundo os e-mails, incluiu também ajuda decisiva do Professor Luizinho (PT-SP), que é da tropa de choque do Palácio do Planalto no Congresso.
Segundo os e-mails, defenderam os interesses dos centros os seguintes deputados: Raquel Teixeira (PSDB-GO), Murilo Zauith (PFL-MS), Carlos Nader (PFL-RJ), Clóvis Fecury (PFL-MA), Odair José (PT-MG), Severiano Alves (PDT-BA) e Osvaldo Biolchi (PMDB-RS).

Ligações
Raquel Teixeira recebeu uma doação de R$ 1.000 para sua campanha em 2002 da Associação Salgado de Oliveira, que mantém em Uberlândia (MG) o Centro Universitário do Triângulo.
Em Goiânia, Edson Teixeira Alves Júnior, primo de Raquel, é o diretor da Universidade Salgado Oliveira, que pertence ao mesmo grupo empresarial. A mantenedora é a família de Wellington Salgado, suplente do senador Hélio Costa (PMDB-MG).
As famílias de Zauith, Nader e Fecury são proprietárias de centros universitários em Dourados, Rio de Janeiro e Maranhão, respectivamente. Zauith, que declarou gastos de R$ 150 mil na campanha para deputado, financiou sozinho R$ 140 mil.
Fecury, informa o TSE, teve apenas um doador de campanha, além dele mesmo: o Centro de Ensino Unificado do Maranhão. A empresa entrou com R$ 200 mil e ele, com R$ 80 mil.
Já o pai de Carlos Nader, Feres, dono do Centro Universitário de Barra Mansa (RJ), doou R$ 65 mil dos R$ 83 mil que o filho declarou ter recebido na campanha.
Odair José, Severiano Alves e Biolchi operaram para os centros, segundo os e-mails, mas não receberam doações deles.
A autonomia dos centros está assegurada por um decreto de Fernando Henrique Cardoso (3.860/2001). O objetivo de Gilmar Machado é anular a medida de FHC: "Diplomas estão sendo vendidos à prestação".

Lobby
No dia 22 de julho, foi aprovado um requerimento pedindo urgência na votação do decreto legislativo de Machado.
O passo-a-passo do lobby foi detalhado nos e-mails de Paulo da Rocha Teixeira, o diretor-executivo da Anaceu, endereçados aos reitores e proprietários de centros universitários. A primeira mensagem, enviada dia 23, diz que a deputada Raquel Teixeira "ficou de plantão no plenário" para barrar a votação. Relata que o presidente da Anaceu, Magno Maranhão, redigiu um discurso para ser lido por Raquel, caso necessário.
Diz ainda o e-mail que, no mesmo dia 23, o vice-presidente pedagógico do Centro de Ensino Unificado de Brasília, Getúlio Moreira Lopes, envolveu o "deputado xxx" e o "senador yyy", que convocaram uma reunião para o dia 28 com Machado.
O deputado petista revelou que, naquele dia, reuniu-se com Wellington Salgado, o suplente do senador Hélio Costa, e com os deputados Zauith e Nader.
No dia 29, os aliados, sempre segundo Teixeira, trabalharam na entrada do plenário e nos gabinetes para colher a assinatura dos líderes e vice-líderes. Cunha, precisando de apoio para aprovar a reforma da Previdência, propôs criar uma comissão especial.
No dia 30, Getúlio Moreira Lopes, do Centro Educacional Unificado de Brasília, recebeu, segundo os e-mails, informação de que o Planalto havia determinado que o decreto voltasse à pauta. Zauith e Nader, relata Teixeira, conseguiram assinatura de todos os líderes pedindo a retirada.
"O Professor Luizinho conversou conosco e garantiu que o acordo será cumprido", escreveu Teixeira no último e-mail. O projeto foi então retirado da pauta da convocação extraordinária.


Texto Anterior: Relligião: Em SP, missa tem auxílio de circuito de TV
Próximo Texto: Diretor de entidade nega lobby e diz que e-mails relatam fatos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.