São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003


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CONGRESSO NACIONAL

Citados em mensagens afirmam que a intenção não foi favorecer os centros universitários

Diretor de entidade nega lobby e diz que e-mails relatam fatos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor-executivo da Anaceu (Associação Nacional dos Centros Universitários), Paulo da Rocha Teixeira, remetente dos quatro e-mails que revelam um lobby feito no Congresso para tirar da pauta o decreto legislativo 383/ 2003 de Gilmar Machado (PT-MG), disse à reportagem que suas mensagens apenas "relatavam fatos". O decreto prejudica os centros universitários.
Minutos depois, Teixeira afirmou estar em dúvida sobre a autoria das mensagens eletrônicas: "Eu nem sei que e-mails são esses. A gente passa algumas informações, mas eu não me lembro o que de fato ocorreu", completou.
Ele cogitou a hipótese de os e-mails terem sido fraudados para prejudicar a Anaceu. Segundo ele, Magno Maranhão, presidente da entidade, seria o mais credenciado a falar sobre o assunto.
Só que Maranhão afirmou desconhecer os e-mails. Informou que, por não ser reitor ou proprietário de centro, não os recebeu. A reportagem leu para ele, por telefone, trechos dos e-mails e a mensagem final de todos eles: "Hora de Mobilização (conforme nossas últimas reuniões)".
O presidente disse já ter visto essa frase em textos escritos por Paulo Teixeira da Rocha. Em telefonema posterior, ele disse ter confirmado que reitores receberam a mesma correspondência obtida pela Folha.
Maranhão disse que nenhum deputado, mesmo os proprietários de centros, tem autoridade para falar pela Anaceu. Ele negou ter redigido qualquer texto para ser lido na tribuna da Câmara pela deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) .
Disse apenas que um texto seu, em defesa dos centros, foi distribuído para várias pessoas. Maranhão disse ser "amigo de longa data" da deputada e que ela não aceitaria essa interferência.
Raquel Teixeira disse que a doação de R$ 1.000 que recebeu de uma associação educacional não a deixa constrangida para atuar em prol do setor: "Trabalho pela educação pública há 40 anos, fiz doutorado em educação e defendo um sistema superior de ensino plural, com universidades e centros". Ela usou o mesmo argumento para falar de seu parente que é diretor de uma universidade em Goiânia.
A deputada negou ter feito plantão no plenário, como afirmam os e-mails, e de ter pedido para o deputado Osvaldo Biolchi (PMDB-RS) substituí-la no dia 24.
Já Biolchi afirmou que, no dia 24, Raquel Teixeira precisou sair da Câmara e lhe pediu para "ficar atento" para que o decreto não voltasse à pauta. "Estou agindo de boa fé", disse Biolchi.
Raquel, Biolchi e Odair José (PT-MG) afirmaram ter trabalhado para retirar o decreto de Gilmar Machado da pauta porque mudanças no ensino superior precisam ser discutidas na Comissão de Educação e não podem ser votadas em regime de urgência no plenário. Severiano Alves (PDT-BA) disse a mesma coisa por meio da sua assessoria.
Professor Luizinho (PT-SP), um dos deputados mais próximos do Planalto, confirmou ter ajudado a costurar o acordo que tirou o decreto da pauta e que criou uma comissão para estudar o tema: "Trabalhei pelo consenso".
Ele afirmou não ter mudado de opinião, entre abril e dezembro de 2002, em relação à autonomia dos centros: "Sempre fui favorável, mas na votação de abril acompanhei a bancada do PT".
No dia 10 de abril de 2002, na Comissão de Educação, Professor Luizinho votou contra um projeto de lei que conferia autonomia aos centros universitários.
Em dezembro, a votação foi na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Segundo o deputado, em dezembro houve divergências internas e ele pôde votar a favor da matéria. O projeto acabou rejeitado pela CCJ.
Os deputados Murilo Zauith (PFL-MS), Carlos Nader (PFL-RJ) e Clóvis Fecury (PFL-MA) não foram localizados. A reportagem conseguiu apenas falar com seus assessores. O celular de Wellington Salgado, suplente do senador Hélio Costa (PMDB), estava na caixa postal, mas ele não ligou de volta. A assessoria de Getúlio Moreira Lopes, do Ceub, em Brasília, que também foi citado nos e-mails, informou que quem faz lobby no Congresso são os donos de universidades.


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