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SAÚDE
Projeto do governo começa a ser implementado nesta semana; meninos e meninas entre 15 e 19 anos vão receber preservativos
Escola pública dará camisinha para aluno
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não estranhe se passar a encontrar entre os cadernos de sua filha
exemplares de camisinha. É que, a
partir desta semana, os ministérios da Educação e da Saúde iniciam um projeto de distribuição
de preservativos masculinos nas
escolas públicas -para meninos
e meninas entre 15 e 19 anos.
Os protestos são esperados.
"Vamos ter problemas, com certeza", diz Maria Cecília Carlini
Macedo, coordenadora do projeto na Secretaria Municipal da
Educação de São Paulo. Segundo
ela, os pais preferem repassar o
problema para a escola, mas "se
recusam a pensar que o filho já se
iniciou sexualmente" -especialmente quando se trata de filha.
O projeto será lançado na terça-feira, em Curitiba. Até o final deste mês, será iniciado em outras
quatro cidades, Rio Branco e Xapuri, no Acre, São José do Rio Preto (SP) e São Paulo.
Até julho de 2004, 105 mil alunos da rede pública vão recebendo oito preservativos por mês,
chegando a 2,5 milhões de alunos
até 2006. Em três anos, estarão
sendo oferecidas 235 milhões de
unidades anualmente, a um custo
de US$ 7 milhões.
Estima-se que existam no país
8,9 milhões de alunos no ensino
fundamental entre 15 e 19 anos.
Segundo Cecília Macedo, a iniciação sexual em São Paulo se dá em
média aos 14,5 anos -30% dos
jovens têm vida sexual ativa. "Não
estamos promovendo a iniciação
sexual. Estamos trabalhando com
quem já se iniciou", diz.
Essa é uma das críticas esperadas, embora uma pesquisa da
Unesco, feita em 14 capitais em
2001, mostre pais e alunos mais
receptivos à idéia. Segundo a pesquisa, 84% dos pais que participaram de atividades de prevenção
promovidas pela escola são favoráveis à distribuição de preservativos no colégio. Em média, 40%
das escolas utilizam preservativos
em atividades demonstrativas
-90% dos alunos com vida sexual ativa mudaram comportamento "após intensa exposição"
às atividades de prevenção.
A questão está justamente na
qualidade dessas atividades, que
exigem capacitação dos professores e continuidade. "Na rede municipal de São Paulo, já há um trabalho em andamento, mas não se
pode dizer o mesmo de todo o
país", diz Antonio Carlos Egypto,
psicólogo e coordenador do projeto de orientação sexual nas escolas pelo GTPOS, uma ONG de
pesquisa e orientação sexual.
Outra pesquisa feita pelo Ministério da Saúde, com 2.186 escolas,
mostra que 70% dos estabelecimentos desenvolvem atividades
educacionais contra Aids e DSTs.
No geral, cerca de 40% das escolas
disseram ter professores capacitados para isso.
O outro lado dos números, no
entanto, mostra que o projeto é
necessário e que há muito por fazer. Em 36% das escolas ouvidas,
ocorreram casos de gravidez entre menores de 18 anos. Segundo
o Ministério da Saúde, 5.597 casos
de Aids foram registrados entre 13
e 19 anos. Entre 1999 e abril deste
ano, o SUS realizou 210.946 partos
em meninas de 10 a 19 anos e
atendeu 219.834 casos de curetagem por aborto.
A educadora Maria Luisa Eluf
defende a iniciativa do governo.
Diretora da Semina Educativa, ela
já produziu 260 mil kits para a rede municipal de ensino, com preservativo e material educativo.
Agora, 10 mil kits estão sendo usados pelo Programa Saúde da Família. "É uma forma de atrair os
jovens aos postos de saúde."
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